FÓRMULA 1
Com gana para apagar as críticas feitas pela RBR nos últimos dois anos, montadora francesa apresenta projeto de equipe própria sonhando voltar ao topo em poucos anos
Logo da Renault (Foto: Getty Images)
A F1 ganha uma escuderia com grande capacidade tecnológica, fôlego financeiro e muita gana de mostrar ao mundo que nem todas as acusações da dupla de diretores da RBR, Helmut Marko e Christian Horner, no ano passado, têm fundamento. A decisão se relaciona à necessidade de a Renault expor no mercado a sua verdadeira competência, distinta da gerada pelos fracos resultados principalmente no ano passado, como fornecedora da unidade motriz para a RBR e seu time satélite,
STR.
Centro Tecnológico da montadora em Guyancourt, a sudoeste de Paris, ao lado de Versailles. É lá que nesta quarta-feira a Renault apresenta os seus planos para a temporada que vai começar dia 20 de março em Melbourne, na Austrália, com a presença de seus principais personagens, como o presidente do grupo, Carlos Ghosn, o presidente da divisão de esportes, Jérôme Stoll, o diretor geral da equipe, Cyril Abiteboul, o diretor esportivo, Frederic Vasser, o diretor técnico, Nick Chester, dentre outros.
Os pilotos?
Kevin Magnussen (Foto: Divulgação/McLaren)
Jolyon Palmer (Foto: Divulgação)
Vale a pena um pit stop no tema pilotos. A própria escolha da Renault, ambos jovens e pouco experientes, é reveladora de que o campeonato deste ano está sendo encarado como de transição. Haja vista que a montadora tem a opção sobre o futuro dos dois no fim do ano.
O terceiro piloto a ser apresentado amanhã é uma grande promessa da França, Steban Ocon, normando, 19 anos, um supertalento. Ao menos nas categorias de formação. Foi campeão da ultracompetitiva F3 Europeia em 2014, deixando a estrela ascendente da F1 Max Verstappen, em terceiro, e no ano passado chegou ao título da também disputadíssima GP3, tudo na primeira experiência na competição.
Ocon é piloto da academia da Mercedes e foi “emprestado” a Renault para ganhar vivência no mundo da F1. Como as duas vão se entender depois, caso o piloto ratifique seus imensos dotes, ninguém sabe.
Esteban Ocon será terceiro piloto da
Renault (Foto: Divulgação)
Foco é 2017
O interesse real dos franceses é, como já descrito, na F1 que vai começar a partir de 2017, quando os carros serão equipados com unidades motrizes de mil cavalos e o chassi e os pneus vão ser mais largos. Outra aerodinâmica também está prevista. As indefinições quanto a esse regulamento, contudo, são muitas.
A cada reunião para discuti-lo cada escuderia tenta puxar a brasa para sua sardinha e não há avanços significativos. Elas têm até o mês que vem para bater o martelo, caso contrário a tão decantada “revisão conceitual da F1” em 2017 será bem menor da anunciada por todos, chefes de equipe, FIA e FOM.
Voltando a Renault. Com o investimento que está sendo feito na reestruturação técnica e humana da escuderia, os resultados tendem a ser, já este ano, melhores que os de 2015, quando com o combativo francês Romain Grosjean e Maldonado a então Lotus, adquirida pela Renault, obteve 76 pontos, sexta entre os construtores. A melhor colocação foi o pódio, terceiro lugar, de Grosjean no GP da Bélgica.
Para 2017, a não ser que Magnussen e Palmer provem ser pilotos de grande valor, será difícil sua permanência no time. A Renault espera estar dentre os que vão lutar pelas vitórias. E isso a permitirá ir ao mercado atrás de pilotos comprovadamente capazes de serem vitoriosos.
A ideia da direção da equipe é usar o dinheiro do patrocínio dos pilotos e o repassado pela Formula One Management (FOM) para disputar o campeonato deste ano sem a necessidade de investir muito, a fim de concentrar seus esforços no projeto do chassi e da nova unidade motriz em 2017. Maldonado contribuiria com 24 milhões de libras (R$ 130 milhões) e Palmer levará 15 milhões de euros (R$ 70 milhões).
Esses valores somados aos cerca de 70 milhões de dólares (R$ 280 milhões) da FOM perfazem um total de R$ 480 milhões, ou 102 milhões de euros, quase suficiente para uma temporada básica de transição.
Ocorre que os 24 milhões de libras de Maldonado não vêm mais. A montadora terá de bancar o valor ou obtê-lo com patrocinadores. Mais: Magnussen é um piloto pago. Mas seu contrato não lhe deve render mais de 1 milhão de euros (R$ 4,7) pelo campeonato. De qualquer forma, são somas bastante baixas tratando-se de uma montadora da dimensão da Renault.
Técnicos já trabalham no novo projeto
Investimento mesmo será realizado no projeto que o diretor técnico e seu consultor, Bob Bell, já estão fazendo no modelo de 2017, bem como o grupo coordenado por Rob White na nova unidade motriz, aproveitando-se das liberdades que a FIA teve de conceder para a concorrência aproximar as suas unidades da produzida pela Mercedes, a mais eficiente em todos os parâmetros.
As sedes de Viry Chatillon, ao sul de Paris, próxima ao aeroporto de Orly, onde trabalha principalmente o grupo da unidade motriz, e a de Enstone, Inglaterra, não distante do autódromo de Silverstone, responsável pela concepção, produção e desenvolvimento do chassi, estão ganhando novos equipamentos e profissionais. Há anúncio da Renault na mídia especializada para o recrutamento de técnicos.
As chances de a Renault poder se inserir dentre os que concorrem por títulos, num futuro não distante, cresceram com o esperado anúncio, amanhã, de Vasser como diretor esportivo. O francês é campeão por onde passa. Quem o viu trabalhar na GP2 e GP3 este ano, por exemplo, entende melhor sua capacidade. Ele é sócio de Nicolas Todt, filho do presidente da FIA, Jean Todt, na ART Grand Prix, time campeão na GP2 com outro fenômeno, o belga Stoffel Vandoorne, piloto de testes da McLaren-Honda, e da GP3, com Ocon. O dedo, ou a mão de Vasser nas conquistas é reconhecida por todos no meio.
Pessoas certas no lugar certo
O bom para a Renault é que Abiteboul e principalmente Alain Prost se dedicarão às questões administrativas. No caso de Prost, apenas embaixador da marca francesa. Era cotado para dirigir a equipe. Como diretor de um time, Ron Dennis, sócio e diretor da McLaren, afirmou: “Alain como condutor da sua escuderia é um excelente piloto”. A enorme competência demonstrada nos quatro títulos mundiais ficaram nas pistas. Prost é tido no paddock como um péssimo administrador.
No GP da Grã-Bretanha de 1977, a Renault se apresentou para a corrida de Silvestone com uma novidade: o modelo RS01 pilotado por Jean-Pierre Jabouille tinha um motor de 1,5 litro V-6 Turbo. Largou na 21.ª colocação e completou apenas 16 voltas no veloz traçado de 4.718 metros na época. Mas para muitos já a partir daquele dia, 16 de julho, a F1 tomaria outro rumo. O motor turbo pegou. Seria abolido no fim de 1988.
Com time próprio a Renault foi campeã do mundo em 2005 e 2006, com Fernando Alonso, já na era dos motores aspirados novamente. Venceu também os mundiais dos dois anos entre os construtores. Mas como fornecedora de motor a Renault ganhou com a Williams os campeonatos de 1992, 1993, 1996 e 1997. Com a Benetton, em 1995, e com a RBR, em 2010, 2011, 2012 e 2013.
Fernando Alonso Renault Formula 1 f-1
Brasil 2005 (Foto: Getty Images)
Dia 22 começa a pré-temporada, no Circuito da Catalunha, em Barcelona. A Renault ainda não anunciou a data de apresentação do modelo de 2016. Mas no evento de amanhã o layout da pintura deverá ser exposto, onde a cor predominante da marca é o amarelo. Não terá nada a ver com o preto da Lotus F1.
Detalhe do carro da Renault de
2016 (Foto: Divulgação)
A direção da Renault decidiu readquirir a escuderia de Gerhard Lopez, empresário de Luxemburgo e sócio do grupo Genii Capital, para quem a havia vendido no fim de 2011, pelo motivo já mencionado: a montadora quer reverter a imagem de fracasso divulgada pela direção da RBR. Deu para sentir, no fim de 2015, até revolta das lideranças da Renault. “É como se nos quatro anos em que conquistamos tudo juntos, de 2010 a 2013, a Renault não tivesse importância maior”, afirmou Abiteboul.
Curiosamente, a RBR disputará o campeonato deste ano ainda com a unidade motriz Renault, mas rebatizada de TAG, nome do novo patrocinador da RBR. A TAG-Heuer é do sócio da McLaren, o saudita Mansour Ojjeh, em pé de guerra com Ron Dennis, seu ex-amigo e sócio também da McLaren. Os franceses, como a Mercedes, Ferrari e Honda vão iniciar o ano com uma unidade motriz bem distinta da que terminou a temporada de 2015.
Remi Taffin, chefe de operações da Renault, disse ainda em Interlagos, nos dias do GP do Brasil, que os engenheiros da empresa haviam identificado as causas do fraco desempenho da unidade motriz em relação a Mercedes e Ferrari. Falou ainda que, com a possibilidade de rever o projeto, oferecida pelo regulamento, a Renault de 2016 seria bem diferente da de 2015.
É um discurso semelhante ao do fim de 2014. Mas na temporada do ano passado a Renault andou para trás se comparada à concorrência. Esse é o primeiro desafio da empresa, antes de qualquer outro: tornar sua unidade motriz mais eficiente em disponibilidade de potência e confiabilidade.
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FONTE:
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2016/02/renault-expoe-sua-face-em-paris-nesta-quarta-e-volta-f1-para-ser-campea.html
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