TAEKWONDO
Lutador, que disputa 1ª seletiva olímpica do taekwondo no fim de semana, lembra dos poucos treinos, supera câncer da mãe e recorda rotina em obras: "Chegava exausto"
Maicon
desfere chute na direção do rosto de
um oponente: brasileiro já
trabalhou como
garçom antes de lutar (Foto: Marcelo Barone)
Caçula da família, Maicon, aos 18 anos, trabalhava como assistente de pedreiro de segunda à sexta-feira, em Justinópolis, distrito de Ribeirão das Neves, em Minas Gerais, onde nasceu. No sábado, fazia "bico" como garçom e, naturalmente, sobrava apenas um dia da semana para se dedicar à sua paixão, o taekwondo.
- A rotina era intensa. Carregava saco de cimento, virava massa, levava tijolo, descarregava caminhão, brita... Era um trabalho pesado, chegava em casa exausto. Mas era o único jeito de permanecer lutando, por isso, não podia largar o serviço. Eu levava um dinheiro para casa e outra parte comprava o que precisava do taekwondo. Era pouco, mas dava para pagar uma inscrição no campeonato, ajudou muito - declarou o atleta, de 22 anos.
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Lutador posa com a mãe, Vitória, que foi diagnosticada com câncer (Foto: Arquivo Pessoa)
- Mudar de cidade foi complicado. A minha mãe me apoiou, assim como os meus irmãos. Larguei o conforto de casa, o carinho da família, para buscar meu sonho em um lugar onde não conhecia ninguém. Os três primeiros meses foram os mais difíceis da minha vida, era período de adaptação. A saudade apertava, doía muito, só conversava com a minha mãe pelo telefone. Em nenhum momento pensei em desistir. Se eu deixei o conforto de casa para ir atrás do meu sonho, eu nunca vou desistir.
Vou até o fim. O Reinaldo e o Clayton, técnicos da equipe, me falaram que seria difícil, mas que daria certo. Eu acreditei e, no sétimo mês, estava na seletiva para a seleção.
Dificuldades financeiras, cotidiano desgastante, mudanças de cidade e distância da família. Maicon Andrade precisou de muito suporte e equilíbrio emocional para não perder o foco. Foi superando os percalços até que, no início deste ano, um adversário forte e silencioso atacou sua mãe. Dona Vitória foi diagnosticada com câncer de mama.
- Foi o momento mais difícil da minha vida. Eu estava em competições muito importantes, tive que fazer um trabalho forte de psicologia. Foi a única coisa que mexeu muito comigo e, mesmo assim, mantive o foco e não desisti, provando que tudo que aconteceu com ela serviu de inspiração. O que faço é por ela, luto por ela.
Maicon ficou em terceiro lugar na
Universíade (Foto: Arquivo Pessoal)
- Paguei todos os remédios, tudo o que ela precisava. Ela é a minha força, minha inspiração. Todas as minhas lutas são por ela. Antes de lutar, sempre mando mensagem, ligo para ela. É amor mesmo. Meu sonho é dar uma viagem para ela poder viajar, ficar meses fazendo o que ela quiser, conhecer o mundo inteiro, levá-la para fora do país. Ela nunca foi ao exterior e sempre sonhou em ir para Dubai. Se Deus quiser, vou dar esse presente a ela. E não vai demorar muito - destacou o lutador, medalha de bronze na Universíade deste ano.
Único integrante da família a seguir o esporte como profissão, Maicon se tornou o "herói" dos oito irmãos - sete homens e uma mulher. O mineiro disputou competições mundo afora, mas ainda tem suas raízes na cidade onde nasceu.
- Meus irmãos moram todos em Justinópolis, só um que vive no Rio. Eles ficam mais nervosos do que eu quando tem competição. A relação com todos é a melhor possível, eles têm muito orgulho de mim. O meu irmão Marcelo falou para mim várias vezes: "Cara, tenho orgulho de ser seu irmão. Tive filhos, precisei fazer um caminho diferente, mas fico feliz por você seguir essa carreira no esporte".
Mineiro vem desbravando o mundo através das competições de taekwondo (Foto: Arquivo Pessoal)
- Estar na seleção era meu sonho, e venho sendo titular por dois anos consecutivos. Ao entrar, você vira o alvo. Muitos acabam se acomodando. E quando isso acontece, alguém vai querer tomar o seu lugar. Tem que estar evoluindo, competindo, tem que buscar uma coisa maior. Você precisa saber onde quer chegar. Espero representar o país nas Olimpíadas e realizar meu sonho de ser campeão olímpico.
Maicon precisa terminar a primeira seletiva olímpica fechada entre os três melhores da categoria +80kg para, aí sim, se classificar para a segunda e decisiva seletiva fechada, que acontece no dia 14 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Apenas o campeão de cada peso (-57kg feminino; -58kg e +80kg masculino) garante a vaga de titular. A categoria -49kg feminino já tem representante e a seletiva decidirá a reserva. A titular será Iris Sing, que se classificou de forma direta por terminar entre as seis melhores do mundo no ranking da Federação Internacional.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/taekwondo/noticia/2016/01/ex-pedreiro-e-heroi-de-oito-irmaos-maicon-andrade-sonha-com-rio-2016.html
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