segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Análise: saída de Aidar é necessária, mas não resolve crise do São Paulo


Iminente renúncia do presidente abre espaço para a paz voltar ao clube, mas também deixa brechas para os inúmeros grupos políticos confabularem pelo fetiche do poder




Por
Fortaleza



Carlos Miguel Aidar (Foto: Marcos Ribolli)Carlos Miguel Aidar deve apresentar sua renúncia nesta terça-feira (Foto: Marcos Ribolli)


A iminente renúncia de Carlos Miguel Aidar é um passo importante, porém longe de ser definitivo para que o São Paulo resolva seus problemas políticos, e volte a ter credibilidade perante torcida e mercado. As aparentes boas ideias e intenções da campanha que reconduziu o advogado ao poder, em abril do ano passado, se perderam em meio a escândalos e contratos mal explicados.

Agora, sua queda, prestes a ser oficializada, pode tanto ser o ponto de partida para tempos de paz, como a abertura de brechas para uma espécie de dirigente que se prolifera no Tricolor paulista: aquele que pensa mais no próprio bem do que no do clube.

A sensação de ostentar qualquer tipo de poder no time do coração chega a ser doentia. Apoios são trocados por afagos, mimos que soam insignificantes, como um ingresso aqui, um abraço no ídolo ali, uma oportunidade de viajar no ônibus com os jogadores. É fácil massagear o ego de sócios, conselheiros ou potenciais aliados. Até mesmo certos torcedores do São Paulo tentam se notabilizar sob o rótulo de “influentes”. É quase um fetiche.


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Nesse contexto, o clube se depara com a bizarrice de ter mais de 10 grupos políticos. Não há nem espaço para tantas divergências. E esses “partidos” não param de crescer. Um dissidente daqui se junta com outro dali, agregam mais dois ou três, e pronto, forma-se um novo grupo: Vanguarda, Participação, Movimento São Paulo, Clube da Fé, Força São Paulo, Nova Força, etc, etc, etc...

Já há, por exemplo, um novo partido surgindo, com os principais aliados de Aidar – Douglas Schwartzmann (que teria sido citado em gravações do presidente, feitas por Ataíde Gil Guerreiro, como protagonista de operações fraudulentas e comissões irregulares), Antônio Donizeti Gonçalves, o Dedé, Eduardo Alfano, entre outros, para lançar candidato na eleição que deve ser convocada ao longo dos próximos 30 dias. Seria a permanência oculta de Aidar e seus métodos? Vale lembrar que a maioria dos citados retirou apoio ao presidente depois que ele havia anunciado a renúncia. Conveniente, no mínimo.


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A sede de poder começou a ser cultivada durante a gestão de Juvenal Juvêncio. Sua forma centralizadora de governar gerou medo camuflado de respeito. Ninguém se opunha às suas decisões, mesmo as mais sigilosamente condenadas, como a criação de seu terceiro mandato. Por que? Por medo de perderem o cargo, a pompa, o orgulho e o gostinho de dizer aos vizinhos e parentes que eram figuras importantes no São Paulo. Era evidente que, assim que se vissem livres da “entidade” Juvenal, conselheiros, diretores e vices botariam as manguinhas de fora, babando em busca de um lugar ao sol.

O São Paulo não tem mais direito de errar. Nos últimos anos, não perdeu apenas campeonatos, mas também a tal soberania que fazia questão de ostentar. Hoje, o clube não tem patrocínio, vive caos financeiro, seu estádio é obsoleto perante as novas arenas, e ainda é preciso conviver com a vergonha de ter visto um técnico excelente e absolutamente digno deixar o cargo abismado com os desmandos presidenciais. O São Paulo não tem credibilidade.


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Para recuperá-la, não basta restabelecer a paz e a dignidade. É preciso parecer pacificado e digno. Vender uma imagem positiva, desde que seja verdadeira. Dar início a uma reforma que modernize seu estatuto. Isso só será possível com a junção de pessoas de bem e suficientemente desprendidas da sensação de poder, tudo sob o comando de alguém que tenha o respeito de todos os envolvidos, por sua postura e trajetória.

Alguém que, de preferência, rompa com a incômoda tradição tricolor de cultuar seus cardeais. Há bustos e homenagens mil aos engravatados, mas não há referências a seus maiores ídolos. Onde estão Telê Santana, Raí, Muricy Ramalho, Roberto Dias, Careca, a não ser no imaginário dos torcedores? São eles os verdadeiros ídolos e responsáveis pelo tamanho que o clube atingiu. É uma lição a ser aprendida desses últimos desastrosos anos.

Se o São Paulo errar agora, dará a Carlos Miguel Aidar, em pouco tempo, a oportunidade de se transformar em bode expiatório, um coitado que pagou sozinho pelos erros de um clube à deriva. Se o São Paulo quiser se firmar por princípio, e não por conveniência, como combatente de gestões danosas, deve investigar até o último fio de cabelo todo o prejuízo que lhe pode ter sido causado nos últimos anos.

Aidar cairá. Mas, se o São Paulo não se livrar da ganância e dos interesses pessoais de seus inúmeros e injustificáveis partidos, cairá também. Mais cedo ou mais tarde.

Leco presidente conselho deliberativo sao paulo (Foto: Reprodução/SporTV)
Leco deve assumir, como presidente do Conselho, 
e será candidato ao convocar eleições 
(Foto: Reprodução/SporTV)


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