Com os atrasos de salários e dívida milionária, clube não sabe como reagir. Rotina de indisciplina do jogador chega ao limite
A relação de Ronaldinho Gaúcho e Roberto Assis com o Flamengo está por um fio e alguns milhões de reais. No dia seguinte à atitude do empresário de ir à loja da Gávea para pegar camisas
e outros materiais do clube com a alegação de que “o Flamengo não paga
meu irmão, então não vou pagar também”, os bastidores do clube
fervilharam. O episódio aumenta as chances de saída de Ronaldinho,
reforçado por uma série de fatores que envolvem o camisa 10 e seu irmão e
também a relação custo-benefício com o jogador. Sem alarde, cada parte
já trabalha com a hipótese de dar um fim ao contrato, válido até
dezembro de 2014.
Ronaldinho tem decepcionado neste primeiro semestre (Foto: Marcos de Paula / Agência Estado)
Publicamente, Assis e dirigentes do Flamengo evitam declarações
polêmicas para não dar armas para ataques e contra-ataques. Mas jogador e
agente cobram a dívida. Com os salários do jogador em um pouco mais de
R$ 1,20 milhão - bancados sem ajuda de patrocinadores - a bola de neve
financeira cresce rapidamente.
Mas, como numa partida de xadrez, as peças são mexidas de forma meticulosa à espera da jogada do adversário para evitar um xeque-mate.
Assis está insatisfeito com a divida que o Fla tem comseu irmão (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)
Apesar de contido em declarações públicas, Assis já desabafou para
pessoas próximas e também em declarações informais com alguns
jornalistas que o “Flamengo não cumpre o que acorda, é muita
conversinha” e não descarta tirar Ronaldinho do Flamengo, já que o
atraso ultrapassa os três meses. O caso pode acabar na Justiça.
- O Assis sabe jogar e tem claramente evitado o combate. O Flamengo pede paciência para pagar, e ele sempre diz que vai ter. Quando cansar, vai chegar, dar tchau ao clube, penhorar tudo e colocar na Justiça. E ele está cansando – disse uma pessoa próxima ao agente.
Com o atraso salarial, o clube fica de mãos atadas, mas o incômodo com a postura de Assis já é discutido abertamente na Gávea e tem reflexos até nas categorias de base. O empresário colocou seu filho, Diego Assis, para treinar entre os juniores. A decisão não foi bem aceita por responsáveis pelo setor e, segundo o coordenador da base rubro-negra, Carlos Noval, até agora um contrato não foi assinado.
Focos da crise
A relação começou a ficar estremecida no ano passado, quando a base ainda era um tripé: Ronaldinho, Traffic e Flamengo. Parceira do clube na contratação do jogador, a empresa de marketing esportivo ficou responsável pelo pagamento da maior fatia do salário do camisa 10 - R$ 750 mil mensais. Ao Rubro-Negro, caberia o complemento de R$ 250 mil mensais, além do pagamento de R$ 2,5 milhões de luvas por ano de contrato, num total de R$ 10 milhões. A divisão, no entanto, jamais foi parar no papel. Um memorando de intenções sustentava a parceria.
Ronaldinho e Patrícia Amorim já viveram momentos mais harmoniosos (Foto: Maurício Val / VIPCOMM)
Quando sentaram para assinar o contrato, a Traffic quis renegociar
questões técnicas ligadas a patrocínios, licenciamento de produtos e ao
futuro programa de fidelidade para o torcedor e esbarrou em resistências
do clube, principalmente do departamento de marketing. As discordâncias
provocaram a demora para a assinatura do documento.
Desta forma, a Traffic decidiu suspender o pagamento motivada por uma segunda razão: a parceria pontual do clube com a 9ine, que tem Ronaldo Fenômeno como sócio. A agência intermediou a negociação do acerto com a Procter & Gamble para patrocinador master, em agosto de 2011. A Traffic não foi informada sobre as tratativas e não recebeu um centavo sequer pelo acerto feito para os quatro últimos meses de 2011 (R$ 5,6 milhões).
O débito se arrastou até 2012. Foram cinco meses sem ver a cor do dinheiro. Tanto que Assis chegou a colocar em dúvida o retorno de Ronaldinho ao clube depois das férias e a viagem com a delegação para Sucre, na Bolívia, para o jogo de ida da Pré-Libertadores, contra o Real Potosí. O jogador viajou normalmente e participou da derrota por 2 a 1, mas o episódio e ameaças de Assis não foram digeridos por dirigentes do Flamengo.
A relação entre o clube e a empresa de marketing esportivo foi encerrada no início de fevereiro, e o Rubro-Negro se comprometeu a assumir o valor integral: R$ 1,25 milhão. No dia 9 daquele mês, R10 recebeu do clube R$ 3,75 milhões, valor referente à dívida que caberia à Traffic. O Rubro-Negro, que assinou um novo contrato de imagem com o jogador, conseguiu a verba graças ao acordo judicial firmado com a Cosan.
Paralelamente, Ronaldinho Gaúcho ganhou força depois do episódio envolvendo a demissão de Vanderlei Luxemburgo. Após atritos e farpas entre jogador e técnico, Luxa foi demitido, enquanto R10 ganhou apoio do clube. A guerra fria com Vanderlei começou depois que o técnico passou a tentar coibir os excessos do atacante. Luxa acabou envolvido num processo de fritura e deu lugar a Joel Santana.
Rotina de indisciplinas
Ronaldinho Gaúcho não treina. O torcedor do Flamengo se acostumou com essas manchetes nesta temporada em que seu principal jogador tem sido alvo de vaias por conta do fraco desempenho na maioria das partidas. Fato é que, desde a reapresentação para os treinos da pré-temporada, em 3 de janeiro, as ausências de Ronaldinho no campo principal do Ninho do Urubu são constantes, ainda mais nas atividades pela manhã.
As razões são as mais variadas: precaução com a parte física, diarreia, dor por pancada, conjuntivite, convocação para a Seleção Brasileira e até insônia. No começo do ano, ele alegou não ter dormido à noite e, enquanto os companheiros corriam, o jogador dormia em um dos quartos do Ninho do Urubu. Foi assim sob comando de Luxemburgo e continua com Joel.
O caso mais recente ocorreu na quarta-feira da semana passada. Na última sexta-feira, o GLOBOESPORTE.COM informou que o atacante chegou ao Ninho do Urubu para o treino da manhã de quarta dentro do horário, mas sem condições ideais para trabalhar. O diretor de futebol do clube, Zinho, negou, mas fez dura cobrança ao jogador na frente dos companheiros.
Por razões diversas, o craque deixou de participar treinos com os companheiros no Fla (Foto: Agência Globo)
A pouca disposição do jogador contrariou a comissão técnica, e
Ronaldinho foi orientado por Zinho a correr em volta do gramado
principal do CT. Enquanto isso, o grupo disputava um coletivo. Um dia
depois, na quinta-feira, um novo deslize do camisa 10. Ele chegou
atrasado. O treino estava marcado para as 10h, mas o jogador só apareceu
oito minutos depois, antes do início das atividades, quando o elenco
estava pronto para trabalhar.
A presidente Patricia Amorim estava no CT e acompanhou de perto o que aconteceu. A imprensa, no entanto, só foi liberada depois de 1h20m do início da atividade. Foi durante este período de portões fechados que Zinho reuniu os atletas no campo 2 para uma conversa franca. Em tom firme, cobrou todo o grupo, inclusive Ronaldinho. Ao capitão da equipe, disse na frente de todos os atletas e de membros da comissão técnica que ele havia chegado sem condições de treinar na véspera. O dirigente chegou a levantar a voz ao falar para o atacante e depois pediu desculpas por ter se exaltado. R10 é o principal alvo de Zinho. O ex-jogador deixa claro que quer mais compromisso, disciplina e empenho do principal nome do grupo.
Episódio das camisas
Na terça-feira à noite, Assis esteve no clube e quis levar cerca de 40 itens, entre produtos oficiais da Olympikus e outros licenciados, sem pagar. Na loja da Gávea, chegou a dizer:
- O Flamengo não paga meu irmão, então não vou pagar também.
O episódio teve que ser contornado pelo vice de finanças, Michel Levy, que acabou por ceder 25 camisas que fazia parte de sua cota para Assis. Pessoas que presenciaram a cena do empresário e irmão de Ronaldinho relataram clima de constrangimento.
Através da assessoria de imprensa, o vice de finanças Michel Levy disse que se trata de “assunto encerrado, irrelevante”. Mas o mesmo assunto teve ecos na Gávea e gerou irritação em conselheiros e dirigentes do Flamengo.
Assis deu sua versão e negou que a retirada de material tenha relação com os salários atrasados do jogador: “Se fosse para quitar a dívida, levaria camisa para c...”.
O empresário cobra R$ 5 milhões referentes a salários e direitos de imagem e já notificou o Rubro-Negro de forma extrajudicial. O clube alega que deve R$ 2,25 milhões. As partes chegaram a ter discordâncias, mas depois de uma reunião disseram que o problema tinha sido contornado. O Flamengo, porém, não quitou o débito, e a situação está cada vez mais incômoda e próxima do limite.
O Rubro-Negro age com cautela e também evita o embate, já que tem uma dívida milionária com Ronaldinho. O clube estuda a melhor forma de conduzir o caso, mas já tem conhecimento de que Assis pode entrar em ação a qualquer momento para tirar o jogador da Gávea.
Caso aconteça o rompimento, sairia apenas uma camisa 10, mas com transtornos financeiros e desdobramentos bem mais pesados do que as camisas pedidas por Assis.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2012/05/por-um-fio-relacao-entre-flamengo-e-ronaldinho-sob-risco-de-ruptura.html
Ronaldinho tem decepcionado neste primeiro semestre (Foto: Marcos de Paula / Agência Estado)
saiba mais
Do outro lado, do departamento de futebol até a alta cúpula
rubro-negra, todos os setores do clube questionam a permanência de
Ronaldinho Gaúcho no clube e pressionam a presidente Patricia Amorim
para que tome uma solução. Com a corda esticada no limite, o futuro do
camisa 10 está em jogo.Mas, como numa partida de xadrez, as peças são mexidas de forma meticulosa à espera da jogada do adversário para evitar um xeque-mate.
Assis está insatisfeito com a divida que o Fla tem comseu irmão (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)- O Assis sabe jogar e tem claramente evitado o combate. O Flamengo pede paciência para pagar, e ele sempre diz que vai ter. Quando cansar, vai chegar, dar tchau ao clube, penhorar tudo e colocar na Justiça. E ele está cansando – disse uma pessoa próxima ao agente.
Com o atraso salarial, o clube fica de mãos atadas, mas o incômodo com a postura de Assis já é discutido abertamente na Gávea e tem reflexos até nas categorias de base. O empresário colocou seu filho, Diego Assis, para treinar entre os juniores. A decisão não foi bem aceita por responsáveis pelo setor e, segundo o coordenador da base rubro-negra, Carlos Noval, até agora um contrato não foi assinado.
Focos da crise
A relação começou a ficar estremecida no ano passado, quando a base ainda era um tripé: Ronaldinho, Traffic e Flamengo. Parceira do clube na contratação do jogador, a empresa de marketing esportivo ficou responsável pelo pagamento da maior fatia do salário do camisa 10 - R$ 750 mil mensais. Ao Rubro-Negro, caberia o complemento de R$ 250 mil mensais, além do pagamento de R$ 2,5 milhões de luvas por ano de contrato, num total de R$ 10 milhões. A divisão, no entanto, jamais foi parar no papel. Um memorando de intenções sustentava a parceria.
Ronaldinho e Patrícia Amorim já viveram momentos mais harmoniosos (Foto: Maurício Val / VIPCOMM)Desta forma, a Traffic decidiu suspender o pagamento motivada por uma segunda razão: a parceria pontual do clube com a 9ine, que tem Ronaldo Fenômeno como sócio. A agência intermediou a negociação do acerto com a Procter & Gamble para patrocinador master, em agosto de 2011. A Traffic não foi informada sobre as tratativas e não recebeu um centavo sequer pelo acerto feito para os quatro últimos meses de 2011 (R$ 5,6 milhões).
O débito se arrastou até 2012. Foram cinco meses sem ver a cor do dinheiro. Tanto que Assis chegou a colocar em dúvida o retorno de Ronaldinho ao clube depois das férias e a viagem com a delegação para Sucre, na Bolívia, para o jogo de ida da Pré-Libertadores, contra o Real Potosí. O jogador viajou normalmente e participou da derrota por 2 a 1, mas o episódio e ameaças de Assis não foram digeridos por dirigentes do Flamengo.
A relação entre o clube e a empresa de marketing esportivo foi encerrada no início de fevereiro, e o Rubro-Negro se comprometeu a assumir o valor integral: R$ 1,25 milhão. No dia 9 daquele mês, R10 recebeu do clube R$ 3,75 milhões, valor referente à dívida que caberia à Traffic. O Rubro-Negro, que assinou um novo contrato de imagem com o jogador, conseguiu a verba graças ao acordo judicial firmado com a Cosan.
Paralelamente, Ronaldinho Gaúcho ganhou força depois do episódio envolvendo a demissão de Vanderlei Luxemburgo. Após atritos e farpas entre jogador e técnico, Luxa foi demitido, enquanto R10 ganhou apoio do clube. A guerra fria com Vanderlei começou depois que o técnico passou a tentar coibir os excessos do atacante. Luxa acabou envolvido num processo de fritura e deu lugar a Joel Santana.
Rotina de indisciplinas
Ronaldinho Gaúcho não treina. O torcedor do Flamengo se acostumou com essas manchetes nesta temporada em que seu principal jogador tem sido alvo de vaias por conta do fraco desempenho na maioria das partidas. Fato é que, desde a reapresentação para os treinos da pré-temporada, em 3 de janeiro, as ausências de Ronaldinho no campo principal do Ninho do Urubu são constantes, ainda mais nas atividades pela manhã.
As razões são as mais variadas: precaução com a parte física, diarreia, dor por pancada, conjuntivite, convocação para a Seleção Brasileira e até insônia. No começo do ano, ele alegou não ter dormido à noite e, enquanto os companheiros corriam, o jogador dormia em um dos quartos do Ninho do Urubu. Foi assim sob comando de Luxemburgo e continua com Joel.
O caso mais recente ocorreu na quarta-feira da semana passada. Na última sexta-feira, o GLOBOESPORTE.COM informou que o atacante chegou ao Ninho do Urubu para o treino da manhã de quarta dentro do horário, mas sem condições ideais para trabalhar. O diretor de futebol do clube, Zinho, negou, mas fez dura cobrança ao jogador na frente dos companheiros.
Por razões diversas, o craque deixou de participar treinos com os companheiros no Fla (Foto: Agência Globo)A presidente Patricia Amorim estava no CT e acompanhou de perto o que aconteceu. A imprensa, no entanto, só foi liberada depois de 1h20m do início da atividade. Foi durante este período de portões fechados que Zinho reuniu os atletas no campo 2 para uma conversa franca. Em tom firme, cobrou todo o grupo, inclusive Ronaldinho. Ao capitão da equipe, disse na frente de todos os atletas e de membros da comissão técnica que ele havia chegado sem condições de treinar na véspera. O dirigente chegou a levantar a voz ao falar para o atacante e depois pediu desculpas por ter se exaltado. R10 é o principal alvo de Zinho. O ex-jogador deixa claro que quer mais compromisso, disciplina e empenho do principal nome do grupo.
Episódio das camisas
Na terça-feira à noite, Assis esteve no clube e quis levar cerca de 40 itens, entre produtos oficiais da Olympikus e outros licenciados, sem pagar. Na loja da Gávea, chegou a dizer:
- O Flamengo não paga meu irmão, então não vou pagar também.
O episódio teve que ser contornado pelo vice de finanças, Michel Levy, que acabou por ceder 25 camisas que fazia parte de sua cota para Assis. Pessoas que presenciaram a cena do empresário e irmão de Ronaldinho relataram clima de constrangimento.
Através da assessoria de imprensa, o vice de finanças Michel Levy disse que se trata de “assunto encerrado, irrelevante”. Mas o mesmo assunto teve ecos na Gávea e gerou irritação em conselheiros e dirigentes do Flamengo.
Assis deu sua versão e negou que a retirada de material tenha relação com os salários atrasados do jogador: “Se fosse para quitar a dívida, levaria camisa para c...”.
O empresário cobra R$ 5 milhões referentes a salários e direitos de imagem e já notificou o Rubro-Negro de forma extrajudicial. O clube alega que deve R$ 2,25 milhões. As partes chegaram a ter discordâncias, mas depois de uma reunião disseram que o problema tinha sido contornado. O Flamengo, porém, não quitou o débito, e a situação está cada vez mais incômoda e próxima do limite.
O Rubro-Negro age com cautela e também evita o embate, já que tem uma dívida milionária com Ronaldinho. O clube estuda a melhor forma de conduzir o caso, mas já tem conhecimento de que Assis pode entrar em ação a qualquer momento para tirar o jogador da Gávea.
Caso aconteça o rompimento, sairia apenas uma camisa 10, mas com transtornos financeiros e desdobramentos bem mais pesados do que as camisas pedidas por Assis.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2012/05/por-um-fio-relacao-entre-flamengo-e-ronaldinho-sob-risco-de-ruptura.html
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