A história de Jobson

Rio de Janeiro — Mesmo quem conhece o calvário que o atacante Jobson atravessou no fim do ano passado, depois de ter sido flagrado em exame antidoping por uso de crack, não pode deduzir até onde a degradação da dependência química o levou. O atleta que hoje divide com Herrera a artilharia do Botafogo no Brasileirão, com cinco gols, chegou a vender o próprio celular para comprar a droga. A revelação pública do vício o levou ao desespero. Empenhado em levar uma vida mais regrada, Jobson conta com tratamento especial no clube da estrela solitária para não enfrentar isolado as tentações que quase puseram um fim prematuro à carreira.

Ano passado, na reserva do Botafogo, antes de entrar de vez no time e se tornar um dos protagonistas da campanha de superação nas rodadas finais que fez o Alvinegro escapar do rebaixamento do Brasileirão, o atacante já vivia a tentação de ser convidado para festas de jogadores, baladas de amigos recém-feitos no Rio de Janeiro, eventos promocionais em boates e restaurantes. Muitas vezes, essas escapadas eram no meio de semana, com treino marcado para a manhã seguinte.

O resultado todos conhecem: o ex-atleta do Brasiliense foi pego no antidoping em dezembro de 2009 e cumpriu seis meses de suspensão. A punição acabou sendo considerada branda. Agora, novamente no Rio e usufruindo status de titular absoluto, o assédio da imprensa, dos promotores de eventos e dos convites para festas tende a aumentar. Mas não no Botafogo do presidente Maurício Assunção. Ele escalou o vice-presidente de futebol e seu braço direito no comando do clube, André Silva, para servir de "babá" do jogador, zelando pelo seu comportamento com regras explícitas.

"Estou sempre em contato com ele, para que não se perca desta vez", diz Silva. "Ele chegou ao Rio da outra vez e não teve estrutura para suportar o assédio em torno de jogadores de futebol. Ele vem de uma família humilde e foi engolido pelo oba-oba. Ele está a fim de manter o bom momento dentro e fora do campo. Aprendeu com o erro. E sabe que pode contar com o Botafogo. Se a gente não soubesse que é um menino bom, não teria apostado nele de novo."

Jobson usava a droga em festinhas, que eram muitas, e via a dependência aumentar a cada dia. Admitiu ter usado o derivado da cocaína pela primeira vez em 2008, mas logo depois foi atuar no futebol coreano e acabou largando o hábito, pois não tinha acesso ao entorpecente. Quando voltou ao Rio, a facilidade em encontrar crack colocou a reabilitação em xeque.

Jobson chegou a querer morrer após a divulgação do resultado do exame antidoping. O escândalo resultou de baladas com jogadores que mal conhecia, nas quais ficava com mulheres bonitas que - como ele próprio admite - não lhe dariam atenção se não estivesse no meio em que está.

A cartilha do jogador:

1. Baladas estão proibidas

2. Eventos e festas, só os promovidos pelo Botafogo

3. Deve atender telefonemas de André Silva a qualquer hora, seja onde for

4. Não conceder entrevistas coletivas nem dar o número do celular a jornalistas

5. Entrevistas, apenas na sede do clube ou no vestiário, sob supervisão dos assessores de imprensa do Botafogo

6. Terapia em todas as sextas-feiras

Em tratamento

» Ausente da vitória do Botafogo sobre o Grêmio Prudente por 1 x 0, na quarta-feira, devido a um estiramento na coxa esquerda, Jobson faz tratamento intensivo, em três períodos, para retornar ao time, mas dificilmente enfrentará o Grêmio amanhã, às 18h30, no Engenhão, e o Santos, dia 9, na Vila Belmiro. Seu retorno é aguardado contra o São Paulo, dia 12, em casa. O Botafogo é o terceiro colocado na tabela, com 30 pontos, a oito do líder, Fluminense. O time tem o terceiro melhor ataque da competição, com 28 gols.

Entrevistas sob controle

O atacante Jobson é o pesadelo da assessoria de imprensa de General Severiano. "Ele fala muita bobagem durante as coletivas. É meio sem noção. Outro dia soltou um palavrão. Comenta sobre o adversário como se estivesse falando com um amigo, não com jornalistas. Às vezes, cria situação constrangedora para o clube. Por isso, de uns dias para cá, quando é escalado para as entrevistas, tem ordem expressas para falar o mínimo possível e não falar sobre vida pessoal", explica Marcelo Mattos, repórter da Rádio Tupi que cobre o Botafogo há três anos.

O assessor de imprensa do clube, Carlo Carrion, nega tal conduta e diz que oficialmente não há nenhuma recomendação especial ao artilheiro. Uma das primeiras coisas que Jobson fez quando retornou ao Rio foi acabar com o vínculo de uma assessoria de imprensa particular que mantinha até o início do ano. O objetivo é dificultar a vida dos jornalistas e não ser encontrado. "Ele está proibido de dar entrevistas exclusivas", conta Carrion.

Choro e vontade de morrer

De uma das maiores revelações do Brasileiro e pretendido pelo Cruzeiro, em 2009, Jobson acabou queimado e preterido pelos times após o escândalo do doping. O Botafogo manteve o apoio, mas, como o jogador tinha chance de pegar até dois anos de suspensão, sua carreira estava na corda bamba.

Os 30 dias que separaram o fatídico dia do exame - após a partida contra o Goiás, pelo returno do Brasileiro, quando foi sorteado para a prova da CBF e admitiu a um integrante da comissão técnica que estava encrencado - e o julgamento no STJD, Jobson viveu o inferno. Buscou ajuda na igreja, tinha uma tecla no celular exclusiva para discar para o telefone de um psicólogo à sua disposição, bancado pelo clube alvinegro, e se refugiou na cidade natal, Conceição do Araguaia (PA). Observar o sofrimento da mãe, que não se conformava em ver do filho destruir não só a saúde, mas a promissora carreira. Admitiu ter pensado várias vezes em ingerir remédios e se matar. Se trancou no quarto por dias, chorando compulsivamente. O filho Victor Leandro, de 3 anos, foi estímulo para decidir mudar de vida.

O novo Jobson tem contrato com o Botafogo até 2015. E um compromisso moral com o clube. "Ele sabe que não pode pisar na bola. Fica longe das tentações, das festas. A mãe dele vem sempre para cá e passa uns dias com ele. A presença do filho também é importante. Está ligado à igreja e encontrou no ambiente de trabalho uma outra família. Jogadores mais experientes conversaram com ele, falaram para ele não ficar se martirizando com o que aconteceu. E que o futebol pode fazer com que a fama de drogado seja esquecida", conta André Silva, encarregado de zelar pelo bom comportamento do atacante.

Fonte: Superesportes