sexta-feira, 14 de junho de 2013

Brasilidades: a ladeira que Neymar subiu para se tornar astro mundial

Antes de brilhar nos gramados, atacante da Seleção desenvolveu ginga na descida e na subida da rua onde morava, no litoral de São Paulo

Por Alexandre Lozetti e Leandro Canônico Brasília, DF


header_brasilidades_NEYMAR (Foto: Infoesporte)
“Quem é que sobe a ladeira...”. Neymar subia, mas apenas em meio tempo. Na outra metade da pelada, ele descia. Era a regra do futebol na rua do atacante durante sua infância na periferia de Praia Grande, litoral paulista. Para que nenhum dos times de garotos fosse prejudicado pelo fato de a casa ficar numa ladeira, eles se revezavam. Neymar, esse jovem cuja transferência para o Barcelona envolveu R$ 157 milhões, e que hoje é a maior esperança de alegria do país na Copa das Confederações e na Copa do Mundo do ano que vem, é o mesmo menino que subiu a ladeira da rua. E subiu a ladeira da vida.

Neymar, que é Neymar Jr. na camisa, e era Juninho quando garoto, pode ter desenvolvido boa parte de suas habilidades nas despretensiosas peladas de rua. As traves eram feitas de todo tipo de objeto, e as calçadas limitavam as laterais do “campo” de asfalto.
- O garoto que criava movimentos para desviar do meio-fio, hoje pode ter aprendido uma técnica para escapar de choques, de lesões. Tudo pode ter desenvolvido habilidades - diz o pai de Neymar, seu xará, a inspiração para que o filho gostasse tanto de futebol.

- Eu tinha de dormir na beirada da cama porque tinha mais bola do que tudo em cima dela - lembrou o craque em entrevista ao “Esporte Espetacular”.

A ladeira também reservou momentos de tensão, que acabaram se tornando motivo de piada na turminha de Neymar. Certo dia, Betinho, seu descobridor e primeiro técnico, foi buscá-lo para o treino. O menino, é claro, estava jogando na rua. Ele estacionou e caminhou para observar seu pupilo. Mas se esqueceu de puxar o freio de mão.

- O carro começou a descer, e tivemos de correr atrás para puxar o freio. A sorte é que não pegou muito embalo, senão tinha sido ruim. Conseguimos alcançar - conta o até hoje inseparável amigo Gustavo Almeida, de 21 anos, mesma idade do atacante da Seleção, e fã desde criança.

- A cada três gols a gente mudava de lado. Ele desequilibrava na subida e na descida, mas na descida era complicado parar. A gente tinha de dar o bote certo.

Mosaico Brasilidades Neymar (Foto: Editoria de Arte)

Betinho é o mesmo técnico que percebeu habilidade em Neymar quando a criança, aos seis anos de idade, assistia aos jogos do pai e subia e descia os degraus da arquibancada com desenvoltura de saltar aos olhos, sem se cansar. A mesma desenvoltura que ele mostrava dentro de casa, quando fazia da porta dos fundos uma trave, e da porta do quarto a outra.

Neymar driblava o sofá, a cadeira, fazia tabelas com a parede, criava campeonatos de tabelas infinitas, e até reclamava com o árbitro imaginário, gesto que se tornou habitual, principalmente no começo de sua carreira. Mas nenhum drible foi tão importante quanto o que ele deu na morte, aos quatro meses de idade.

luiz felipe scolari neymar amistoso arena do grêmio (Foto: Agência AFP)Com Felipão, Neymar se tornou o camisa 10 da
seleção brasileira (Foto: Agência AFP)

A família viajava de Mogi das Cruzes, onde ele nasceu, para visitar os parentes em Santos, quando se envolveu num acidente na estrada. O bebê Neymar foi parar embaixo do banco do carro, enquanto o pai Neymar já pedia a Deus pela vida do filho. Ele foi encontrado com apenas um pequeno corte, sujo com o sangue dos outros. Vivo e inteiro.

- Foi Deus quem nos iluminou.

A bola dividiu espaço com os estudos, literalmente. Neymar já desfilava seu talento pelas quadras de futsal, e recebia propostas dos colégios, que o queriam defendendo seus uniformes nos campeonatos. Tinha bolsas de estudo e até cestas básicas, algo que causava ciúme e um certo desprezo de outros pais.

- Minha esposa sofreu com isso, foi difícil lidar. E sempre que um colégio oferecia bolsa ao Neymar, eu pedia também para minha filha (Rafaella, quatro anos mais nova que o irmão). Não era justo que ela ficasse numa creche, e ele num colégio melhor só porque jogava futebol. Tentamos dar a ela tudo que ele tinha.

A vontade que ele tinha de vencer e ser um grande jogador era muito grande"
Neymar, o pai

Algo que só Neymar tinha eram os amigos. Até hoje, eles não se largam. O craque sempre foi considerado um garoto bonzinho, disciplinado. Mas isso não significa que deixou de lado as molecagens. Pelo contrário. Há uma história bem interessante sobre brigadeiros voadores. Quem conta é seu amigo Gui Pita, de 21 anos, que o conheceu ainda na época de escola.

Os dois costumavam sempre ir juntos às festas na adolescência. Em uma delas, de uma garota de 14 anos, a dupla ficou entediada pela falta de comunicação com os demais convidados. Resultado: tiveram de sair correndo da festa após a mãe da aniversariante ameaçar chamar a polícia.

- A festa era na casa da garota. Só que estava meio chata, ninguém conversava. Aí olhamos um para a cara do outro e começamos a jogar brigadeiro no teto, no ventilador... A mãe da ‘mina’ ficou muito brava e falou que ia chamar a polícia. Saímos correndo do lugar e voltamos para casa - lembrou Gui Pita.

A ladeira de Neymar parece infinita. Já na Seleção, já no Barcelona, já centro das atenções por onde passa, já pai de um garoto, ele continua subindo. A Copa das Confederações é o próximo passo. Um passo importante para quem se ralava no asfalto. Afinal, como seu pai disse:

- A vontade que ele tinha de vencer e ser um grande jogador era muito grande. Ele não tinha onde jogar, fazia isso na ladeira, mas hoje Deus deu a ele milhões de gramados para jogar.

Linha-Tempo_NEYMAR (Foto: Infoesporte)
   FONTE>
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2013/06/brasilidades-ladeira-que-neymar-subiu-para-se-tornar-astro-mundial.html

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