sábado, 19 de novembro de 2011

Lembra Dele? De Fortaleza para o mundo, as corridas de Mirandinha

Ex-atacante de Newcastle, Verdão, Bota, Timão, Fortaleza e Seleção tenta se firmar como técnico, mas pensa em política. E alfineta Osvaldo, do Ceará

Por Diego Morais Fortaleza, CE
 
Mirandinha, ex-atacante de Fortaleza, Palmeiras e New Castle e atualmente técnico de futebol (Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)Mirandinha, no PV, com a camisa do Newcastle
(Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)
Ao colocar os pés no gramado do novo Estádio Presidente Vargas, Mirandinha recorda um dos momentos mais marcantes de sua vida.

- Aqui, eu fiz três gols pelo juvenil do Ferroviário, em 1977, contra o Ceará. Nós ganhamos por 4 a 3 e fomos campeões estaduais. Era tudo muito diferente disso aqui - declarou o ex-jogador.

O PV não se importa em receber de braços abertos quem um dia levou a magia do futebol brasileiro para a Inglaterra. Mirandinha fez história ao ser, aos 27 anos, o primeiro jogador do Brasil a vestir a camisa de um clube inglês: o Newcastle, em 1987.
E para quem já esteve correndo pelos campos da Europa - com muita velocidade, uma de suas principais características -, a situação atual não chegar a assustar, mas é bem atípica. Atualmente, Mirandinha, com 52 anos, presta consultoria para projetos que incluem esporte da Secretaria de Cultura do Ceará.
Isso acabou aproximando-o da política. O homem que desbravou o futebol inglês e foi ídolo no Brasil pode acabar se candidatando a vereador de Fortaleza em 2012.

- É possível que eu saia sim (como candidato). Surgiu a possibilidade recentemente. Estou pensando seriamente em não trabalhar no futebol cearense. Tive muito desgaste em 2011, até familiar, por causa do futebol - declarou o treinador.

Mirandinha, ex-atacante de Fortaleza, Palmeiras e New Castle e atualmente técnico de futebol (Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)Mirandinha penou em 2011, entre Ferrão e Maguary
(Foto: Rodrigo Carvalho/Agência Diário)
2011: um ano de incertezas
Mas as situações atípicas em 2011 não param por aí. Em janeiro, ele montou um grupo de ex-atletas e empresários para dirigir o Ferroviário. Além de dirigente de futebol, ele também assumiu a função de treinador, com a missão de recolocar o Ferrão entre os grandes clubes cearenses.

- Nós investimos em campo, alojamentos, vestiários. No entanto, muita gente criticou, achando que tinha que ter investido no time em si. Foi um ano muito difícil profissionalmente - disse o treinador.

O grupo gestor de Mirandinha tinha direito à maior parte dos lucros que fossem gerados no Ferroviário. O clube tinha direito a 35% nas negociações de atletas e a 20% em qualquer outra fonte de renda como borderôs, patrocinadores e investidores. No entanto, Mirandinha defende que o grupo não queria o lucro imediato, mas sim utilizar o dinheiro para recuperar o Ferroviário.
O Ferrão, porém, fez um péssimo início de Campeonato Cearense e logo se viu ameaçado pelo rebaixamento. Mirandinha e o grupo gestor foram alvos de críticas. A ruptura com o clube não demorou a acontecer, e veio no 2º turno do estadual.

- A ruptura aconteceu por um ato impensado do presidente. Ele achava que o Ferroviário ia reabrir o PV em um jogo contra o Ceará e que essa partida daria quase R$ 1 milhão de renda. Até preocupados em receber só 20% dessa renda, eles resolveram romper de vez conosco. Nosso objetivo naquele momento não era o lucro, mas sim conduzir o projeto, pagar os funcionários, jogadores e restaurar o patrimônio - declarou Mirandinha.

Depois, Mirandinha foi parar no Maguary, da Terceirona Cearense. O time chegou a ir bem na primeira fase da competição, mas, depois, o trabalho do técnico foi atrapalhado por problemas de infraestrutura.

- O projeto do Maguary é muito bom, por isso eu topei. Mas o presidente não conseguiu o apoio que imaginava. Eu tive que dispensar seis jogadores importantes na segunda fase porque eles estavam pagando para jogar. Aí teve falta de salários, os jogadores começaram a faltar também. A gente não tinha nem comida para dar aos jogadores em dias de jogos - contou o técnico.

Desgastado com os clubes cearenses, Mirandinha, neste momento, se divide entre a ideia de ser político ou de até voltar a trabalhar com futebol. Mas bem longe do Ceará, onde deu seus primeiros passos como jogador e fez sucesso vestindo a camisa do Fortaleza.
O ex-jogador e atual técnico pode ir para o Cascavel, no interior do Paraná, onde já treinou em 2005. Porém, há outras possibilidades no Piauí, em Manaus-AM e em Porto Velho-RO.

Na época de jogador, Mirandinha foi o primeiro brasileiro no futebol inglês
Mirandinha nos tempo s de New Castle, da Inglaterra (Foto: Divulgação/NewCastle)Mirandinha nos tempos do inglês Newcastle
(Foto: Divulgação/NewCastle)
Quando jogador, Mirandinha tinha como uma de suas principais virtudes a velocidade no arranque. Essa característica, além dos gols, despertou o interesse do futebol inglês.

- Na época, foi muito difícil. Não havia brasileiros por lá e eu não falava nada de inglês. Mas, ao mesmo tempo, foi também o momento em que eu me senti reconhecido como profissional.

A negociação de Mirandinha com o Newcastle contrariou a lógica da época. Segundo ele, não houve nenhum empresário intermediário na sua transferência. Se as portas para brasileiros eram fechadas no futebol inglês, naquele momento, a abertura se deu de uma maneira bem peculiar. Foi após um golaço com a camisa da Seleção Brasileira, em um amistoso contra a Inglaterra, que Mirandinha ficou famoso na Terra da Rainha.
Em 1986, no entanto, o atacante pertencia ao Palmeiras. Além do golaço no amistoso, contou também com uma "forcinha" especial. Um amigo dele palmeirense foi fazer intercâmbio na Inglaterra e ficou hospedado na casa de um amigo de Malcolm Macdonald, simplesmente o 'SuperMac', que brilhou no Newcastle nos anos 70.

 - Esse meu amigo estava lá e ficava mandando recortes de jornais, fotografias e vídeos meus para o Malcolm. Como ele tinha uma grande influência no Newcastle, onde foi ídolo, aí isso possibilitou que eu fosse indicado para jogar lá - relembrou.

O SuperMac já tinha se aposentado, mas, como lembra Mirandinha, tinha grande influência junto à diretoria do Newcastle. Em 1987, então, o atacante trocou o Verdão pelo clube inglês. Mirandinha chegou à Inglaterra como uma grande promessa (veja no vídeo acima). Ele era vendido pelos jornais da época como uma mistura de Garrincha com Pelé. Uma manchete bem mais audaciosa o descreveu da seguinte forma: 'Mirandinha é o melhor desde que Pelé deixou as chuteiras.' Passado o período de adaptação, o atleta viveu um dos momentos mais felizes de toda sua vida.

- Os torcedores do Newcastle são apaixonados mesmo pelo futebol. Pode ter certeza que não existe torcedor mais fanático que os de lá. E olha que eu tenho muita experiência no futebol. Quando eu entrava naquele estádio com aquela torcida, era algo fora do comum.

No Newcastle, Mirandinha jogou durante duas temporadas. Em 1987, viveu bons momentos, atuando ao lado e contra alguns dos grandes astros do futebol europeu na ocasião, como Paul Gascoine e Bryan Robson. Na primeira temporada, o atacante marcou 23 gols. Na segunda, foram mais 16. Porém, na metade da segunda temporada, sofreu uma contusão no tendão e acabou tendo dificuldades em se firmar. Foi também o mesmo ano em que o Newcastle foi rebaixado no futebol inglês.

- A segunda temporada foi muito complicada. Eu tive uma contusão grave, fiquei fora muito tempo. Houve ainda muitas mudanças de jogadores. Perdemos alguns importantes, e isso acabou rebaixando o time.

Logo após o rebaixamento do Newcastle, Mirandinha voltou para o Palmeiras, em 1989. Os dois clubes, por sinal, são os que o ex-atacante considera como os seus times de coração. A relação de Mirandinha com o futebol inglês não fica por aí. Depois de abrir as portas deste mercado para os jogadores brasileiros, ele ajudou na venda de Juninho Paulista para o Middlesbrough, em 1995.

- Eu estava na sala do presidente do São Paulo, tinha levado alguns jogadores para ele dar uma olhada. Foi quando ele recebeu uma ligação do Bryan Robson. Na época, estava dirigindo o Middlesbrough. O São Paulo queria negociar o Palhinha, mas o Bryan queria levar o Juninho. Aí,  falei com o Bryan e com o presidente e acabei ajudando a selar a negociação do Juninho.

Mirandinha rodou o mundo até voltar para Fortaleza
Mirandinha começou a carreira no Ferroviário em 1977. No Tubarão da Barra, conquistou título juvenil e logo foi embora. Defendeu muitos clubes pelo Brasil e pelo mundo, incluindo Ponte Preta, Botafogo, Náutico, Portuguesa, Cruzeiro, Palmeiras, Corinthians, Newcastle, Belenenses-POR, Coritiba, além de atuar pelo futebol japonês já no finalzinho da carreira - entre 1992 e 1994.

Mirandinha, ex-atacante de Fortaleza, Palmeiras e New Castle e atualmente técnico de futebol (Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)Mirandinha: velocista e astro nos grandes clubes
do Brasil (Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)
Nos tempos de Botafogo, Mirandinha já era famoso pela sua velocidade. Na época, foi autor de uma daquelas frases que causam polêmica no meio futebolístico: "O problema é que eu corro muito, e quando eu corro não consigo pensar." E não é que, perguntado sobre isso, pelo GLOBOESPORTE.COM/CE, o ex-atacante polemizou mais ainda?

- Com toda a minha velocidade, se eu ainda tivesse tempo de observar e raciocinar para poder tocar para alguém ou cruzar, eu seria um fenômeno. Quando jogava, era tachado de fominha e de egoista - frisou.

Mas disse que, na Inglaterra, acabou mudando seu jeito de jogar.
- Mudou na Inglaterra. Eu passei a ser outro jogador. Porque eu passei para outro estilo de futebol. Aí, dava tempo para pensar e encontrar um colega mais livre. Sem contar minha própria maturidade - acrescentou Mirandinha.

Sobre este período, Mirandinha lembra ainda de um fato bem curioso.
- Eu sempre fui muito rápido. Em um dia, a gente estava se direcionando para um jogo no Maracanã. Na chegada, o Botafogo tinha acabado de contratar o Thé. O nosso treinador, o Jorge Meira, falou bem claro para ele: 'Não se preocupa que o Mirandinha corre muito. Ele se desgasta e você vai entrando no time'. Eu fiz dois gols no River-PI, ele acabou não entrando e ficou sendo meu reserva de luxo - brincou.

E antes que encerrasse o papo sobre velocidade, se deu o luxo de alfinetar o atacante Osvaldo, do Ceará,  um dos mais caçados do Brasileirão deste ano, que se projetou nacionalmente também pela sua rapidez.
- Eu também era muito perseguido. Mas a diferença é que eu não errava gol - afirma o ex-atacante, fazendo alusão às finalizações perdidas pelo atleta do Vovô.

No Corinthians, Mirandinha lembra que a passagem foi bem mais rápida. E que, pela sua ligação com o Palmeiras, não teve muita chance.
- Pela Libertadores, marquei gols, e quando fui enfrentar o Palmeiras parei no banco de reservas - disse.

Pela Seleção Brasileira, o atacante tem boas recordações, principalmente das seleções de base, chegando a vencer torneio Pré-Olímpico em 1984. Também esteve no grupo que defendeu o Brasil na Copa América de 1987, disputada na Argentina.
- Naquele tempo havia muito mais amor pela pátria, pelas cores da Seleção Brasileira. Hoje o que se vê é muito mais mercado e negócio no futebol do que qualquer outra coisa.

Jogando em clubes cearenses, Mirandinha só foi campeão estadual uma vez, com o Fortaleza em 1991. Em 1996, depois de nova passagem pelo Tricolor de Aço, resolveu voltar para o Ferroviário. Já com seus 36 anos, se aposentou no Ferrão acumulando as funções de jogador e treinador.

Mirandinha, ex-atacante de Fortaleza, Palmeiras e New Castle e atualmente técnico de futebol (Foto: Kid Junior/Agência Diário)Mirandinha levou o Fortaleza ao tricampeonato estadual em 2009 (Foto: Kid Junior/Agência Diário)
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Como técnico, o único título cearense foi também com o Fortaleza em 2009. Na ocasião, era funcionário do clube e acabou assumindo o time em uma situação difícil. No 1º turno, o Tricolor de Aço não tinha conseguido chegar à final. Pegou então na virada para o 2º turno, foi vencedor, e, em seguida, derrotou o Ceará na final do campeonato.
Mirandinha, no entanto, não deu sequência ao trabalho no Fortaleza. Na Série B, foi substituído por Giba, que foi trocado por Roberto Fernandes. No mesmo ano, o Tricolor acabou caindo para a Série C.
- A minha trajetória foi podada em 2009 por coisas com as quais eu não concordava. Eu tinha acabado de ser tricampeão com o Fortaleza, e isso sem contratar nenhum jogador. Depois pedi alguns jogadores para a Série B que não chegaram. Tivemos também problemas de elenco. Havia jogadores que queriam ficar mais soltos e ter privilégios dentro do grupo e isso não combinava com o meu perfil - avaliou, agora falando como técnico.

 FONTE:

 http://globoesporte.globo.com/bau-do-esporte/noticia/2011/11/lembra-dele-de-fortaleza-para-o-mundo-corridas-de-mirandinha.html

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