Brasília, 28 dez (EFE).- Luiz Inácio Lula da Silva fugiu da miséria do nordeste, trabalhou como torneiro mecânico, fundou um partido, chegou à Presidência em sua quarta candidatura e agora, transformado no líder mais popular da história do Brasil, entregará o cargo a sua "escolhida".
A "novela política" que é a vida de Lula já foi recriada em oito livros biográficos e no filme "O Filho do Brasil", que foi escolhido como candidato nacional ao Melhor Filme Estrangeiro para a próxima cerimônia do Oscar.
O filho mais famoso do nordeste deixará a presidência após oito anos no cargo com uma taxa de popularidade de 87% e a entregará a Dilma Rousseff, que era quase uma desconhecida no país até que ele a elegeu como candidata do Partido dos Trabalhadores (PT).
A transferência do poder será para Lula a coroação de uma vida que começou em um dia que nem ele mesmo sabe. Foi registrado como nascido no dia 6 de outubro de 1945, mas sua mãe, falecida em 1980, jurava que deu à luz no dia 27 do mesmo mês.
Seu pai, Aristides da Silva, era um lavrador analfabeto e alcoólatra que teve 22 filhos com duas mulheres: Lindu, mãe de Lula, e Valdomira, prima da Lindu.
Quando Valdomira tinha 16 anos, Aristides fugiu com ela do miserável município de Vargem Grande (hoje Caetés) rumo a São Paulo quando faltava um mês para que Lula nascesse.
Lindu e sua prole foi logo atrás e, após percorrer 3 mil quilômetros na caçamba de um caminhão, se instalaram em Santos, onde aos cinco anos Lula vendia tapioca e laranjas.
O futuro presidente acabou a escola primária em 1956, e em 1960 começou a trabalhar como torneiro mecânico.
Seis anos depois, entrou para o Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, e liderou o maior movimento operário da história do Brasil, em duros tempos de ditadura.
Em 1980, com a abertura política, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), que nasceu trotskista e com os anos se inclinou para o perfil centro-esquerda de hoje.
Lula foi candidato à presidência em 1989, 1994, 1998 e 2002. Na sua quarta tentativa, chegou ao poder, mas já não como o desalinhado operário barbudo de punho em alto que pregava a "revolução", mas como um elegante político em trajes Armani que proclamava "paz e amor".
Seu primeiro golpe de efeito no governo foi estampar a cara africana do Brasil nas capas dos jornais. Lula percorreu as regiões mais pobres com seu gabinete, para que seus ministros, muitos de "berço de ouro", sentissem "o cheiro da pobreza".
Lula apostou pela ortodoxia econômica e pareceu não ter oposição durante seus primeiros dois anos de governo, nos quais seu discurso social teve mais peso que as conquistas reais.
Logo após, atravessou então um escândalo de corrupção que decapitou a cúpula do PT, e então surgiu o Lula pragmático, que se aproximou do centro e da direita e voltou a ser candidato presidencial em 2006, para ganhar outra vez.
Sua projeção internacional e a do próprio Brasil cresceram até limites inimagináveis, apoiadas na conquista de um país que em seus oito anos de governo tirou 28 milhões de pessoas da miséria.
Em 2008, Lula foi considerado como uma das 20 pessoas mais influentes do mundo pela revista "Newsweek". Em 2009, os jornais "Le Monde" (França) e "El País" (Espanha) o nomearam "Homem do Ano".
Se por um lado se encontrou com diversos chefes de Estado e reis, Lula sempre falou a "língua do povo" com os brasileiros, criticada por acadêmicos que durante os oito anos criticaram sua falta de escolaridade.
Neste ano, em uma de suas apostas mais fortes, escolheu Dilma Rousseff como candidata do PT, envolveu-se na campanha como se fosse sua e comemorou a vitória de sua "escolhida" como a que alcançou em 2003.
Em 2014 poderia partir para sua "sexta" candidatura à presidência, mas ainda não dá pistas sobre isso. Um dia diz que existe a possibilidade e, em outro, que não fará "nem amarrado", porque seria "impossível" superar a si mesmo.

FONTE:
http://noticias.br.msn.com/brasil/artigo.aspx?cp-documentid=26934179