sexta-feira, 26 de julho de 2013

Técnico dos Jogos de 2016, Gallo diz: 'Sem comprometimento não fica'

Escolhido por José Maria Marin para comandar o Brasil nas Olimpíadas, técnico fala da adoção de sistema único e da postura de atletas na base

Por Márcio Iannacca Teresópolis, RJ

Não vai ficar aqui quem não está comprometido"
Alexandre Gallo, sobre os jovens convocados para as categorias de base da Seleção
 
A seleção brasileira que vai disputar as Olimpíadas de 2016, no Brasil, já tem treinador.
 Alexandre Gallo foi o escolhido pelo presidente da CBF, José Maria Marin, para tocar o projeto até os Jogos do Rio de Janeiro. E o planejamento está sendo desenvolvido pelo coordenador das categorias de base da entidade. Da organização dos grupos sub-15, sub-17 e sub-20 até a implantação de uma estrutura única de jogo, nada passa pelo olhar atento do ex-jogador, que tem passagens como técnico por Atlético-MG, Santos, Avaí e Náutico, Bahia, Figueirense e Sport.
Mas o que chamou mesmo atenção na entrevista que ocorreu na Granja Comary, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, é a filosofia implantada pelo coordenador da CBF nas categorias de base. O exemplo de empenho, luta e dedicação da equipe principal na Copa das Confederações é o ponto de partida. A partir de agora, as prioridades para a escolha de um jogador para vestir a amarelinha não passam apenas pela capacidade técnica. Elas vão muito além das quatro linhas.

- O  atleta sempre era convocado por sua capacidade. Em seguinda, as pessoas analisavam o comprometimento e o caráter. Nós mudamos isso. Passamos a olhar o caráter, o comprometimento e, em terceiro lugar, a capacidade técnica. Todo jogador que é convocado tem capacidade para estar na Seleção. Estamos buscando jogadores com perfil de entrega, de luta, de determinação. É o que vimos na Copa das Confederações. Estamos voltados para que isso aconteça também nas categorias de base da Seleção. Não vai ficar aqui quem não está comprometido e que cumpra o trabalho que está sendo proposto. Sem comprometimento não fica. Essa tem sido a tônica do nosso trabalho - explicou Gallo.

Sobre a escolha de Marin, que recentemente cravou o treinador como o comandante do time canarinho nas Olimpíadas de 2016 em entrevista ao jornal "O Globo", Gallo se disse honrado e mostrou que o trabalho em busca da inédita medalha de ouro já começou.

- O projeto inicial era fazer um ciclo olímpico até 2016. Fico honrado de o Brasil disputar uma Olimpíada dentro de casa e eu ser o técnico, o comandante, nesse momento. Era um projeto criado desde que eu fui contratado. O importante é fazer com os pés no chão, sem que suba à cabeça. A partir do ano que vem, da Copa do Mundo, nós teremos dois anos de preparação - disse o comandante canarinho.

Mosaico - Gallo, coordenador categorias de base seleção (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
O foco na preparação para as Olimpíadas começará logo após a Copa do Mundo de 2014. A partir daí, Gallo vai trabalhar mais focado nos jogadores com idade para estar na competição, que é sub-23 e pode contar com três atletas com idade superior aos 23 anos. Nos Jogos de Londres, por exemplo, o comandante foi Mano Menezes, que chamou o zagueiro Thiago Silva, o lateral-esquerdo Marcelo e o atacante Hulk.

- As Olimpíadas vão usar atletas até 93. Vamos estender a lista até o ano de 96, que é essa categoria sub-17 atual (o grupo vai disputar o Mundial em outubro, nos Emirados Árabes). Esses jogadores vão estar para completar 21 anos. Serão jogadores aptos, vencedores, acostumados e com lastro de três ou quatro anos de Seleção para disputar a competição. A partir da Copa, nós vamos unificar todas essas gerações para fazer as escolhas. Teremos um conhecimento grande da categoria e poderemos errar o mínimo possível para fazer uma grande competição em 2016 - analisou Gallo.

O coordenador das categorias de base revelou ainda que tem mantido contatos constantes com os principais clubes do futebol brasileiro. Gallo já visitou 19 e vai entrar em contato com mais sete. Tudo para manter um bom relacionamento no momento de convocar e ter um conhecimento maior sobre os atletas relacionados.

Alexandre Gallo Seleção Brasileira sub-17 (Foto: Divulgação / CBF) 
Gallo comanda treino da seleção sub-17, na Granja Comary, em Teresópolis (Foto: Divulgação / CBF)
 
- Vamos fidelizar com os treinadores, com os coordenadores, e isso está sendo importante. Estamos finalizando com o pessoal da TI (tecnologia da informação) da CBF uma pasta de cada clube. O clube poderá informar o dia a dia dos atletas, departamento médico, fisiologia, calendário... Daremos também o feedback. Todo atleta da Seleção voltará com um CD com o que aconteceu nos treinos físicos, técnicos, de goleiro, fisiologia e departamento médico para que o clube saiba efetivamente o que aconteceu. Acabou aquela conversa de que o jogador foi convocado para a Seleção e não voltou em boas condições. Temos tomado essas ações para nos aproximar dos clubes, abrindo as portas da CBF para que a gente possa minimizar os erros nas próximas convocações.

Uma outra informação importante foi revelada por Alexandre Gallo e que engloba a organização das categorias de base no Brasil. De acordo com o treinador, a CBF vai realizar um congresso técnico em setembro, em São Paulo, com os principais clubes do país. A intenção é mostrar a filosofia e a maneira como as seleções vão atuar daqui a para frente aos coordenadores das categorias de base das equipes brasileiras.

- Temos uma maneira única de jogar na CBF. Vamos fazer um congresso técnico, exclusivamente técnico, para mostrar isso aos clubes, coordenadores e treinadores. Tudo para facilitar esse link. Vou dar um exemplo: os profissionais dos clubes podem apontar um ou outro jogador que se encaixariam em determinada função, que vivem um bom momento. Essa fidelização é muito importante.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Eles estão dando a possibilidade de aproximar de verdade a base da Seleção principal."
Gallo, sobre a relação com Felipão e Parreira
 
GLOBOESPORTE.COM: Como iniciou o projet
 nas categorias de base da CBF?
ALEXANDRE GALLO: Após o desempenho da sub-20 no Sul-Americano, nós iniciamos um processo de reformulação. Na primeira convocação da sub-20, nós tivemos problemas por não ser uma data-Fifa, mas mesmo assim fizemos uma grande reformulação. Levamos atletas do sub-17 e conquistamos um título importante. Das dez equipes que disputaram o torneio, nove estavam classificadas para o Mundial, menos o Brasil. Em 2013, o calendário da sub-20 está reduzido. Teremos um jogo comemorativo pelo aniversário da Federação Catarinense, em setembro, e um torneio no interior da França. Vamos levar uma equipe alternativa para abrir o leque de observações da sub-20.
Por conta disso, o foco hoje é a equipe sub-17?
Sim. Essa é a próxima geração sub-20, com foco no Sul-Americano de 2015 (competição que dará duas vagas para as Olimpíadas do Rio e quatro para o Mundial da categoria). Estamos trabalhando com muito cuidado com essa equipe, aumentando o leque de observações e informações. A nossa comissão técnica já viu 340 jogadores. É uma categoria importante e que conseguimos vaga no Mundial. Terminamos o Sul-Americano com a mesma pontuação da Argentina e isso é importante para nós, para o desenvolvimento do trabalho. Essa é uma categoria que vai dar muitos frutos, com atletas importantes, que também já foram campeões no sub-15.

E a sub-15?
Iniciamos com os torneios de Barcelona e Salt (também na Espanha). Vencemos o segundo. Foi uma equipe que desconhecíamos porque foi bem no início do nosso trabalho. E a sub-15 é uma categoria que você precisa estar atento a tudo. Agora, com o passar do tempo e com um conhecimento maior, a última convocação já é toda em cima das nossas observações. Vamos para um torneio importante no México.

Está acumulando o comando técnico das três categorias?
Na verdade, na sub-15, direcionei mais o trabalho para o Caio Zanardi. São muitas situações, torneios com duplicidade de datas. Quando isso ocorre, o Caio assume a sub-15. O meu foco para o próximo ano é a sub-17 e a sub-20. A ideia é organizar e estar à frente de todas as categorias. Tudo para que possamos fazer um trabalho linkado com a seleção principal.

Parreira e Gallo (Foto: Divulgação / CBF)Parreira e Alexandre Gallo conversam na sede da CBF, na Barra da Tijuca (Foto: Divulgação / CBF)
Como é a relação com Felipão e Parreira?
Sempre converso com os dois. A nossa sala é lado a lado na CBF. Eles estão dando uma abertura muito grande. Estou feliz com isso. Estão dando a possibilidade de aproximar de verdade a base do time principal. Alguns atletas da sub-20 foram convocados para o amistoso contra a Bolívia (em Santa Cruz de la Sierra). O trabalho está sendo feito em conjunto. Sempre reporto com relatórios, mostrando que jogadores estão se destacando. Tenho que servir a comissão técnica da principal de alguma maneira.

E a participação como observador dos adversários na Copa das Confederações?
Foi uma experiência grande para aprender com o Felipão, com o Parreira e com o Murtosa. São todas pessoas vencedoras. Eles me deram um espaço muito grande. Fiz análise do México, da Itália, da Nigéria, da Espanha, do Uruguai. Depois do torneio na Suíça (com a seleção sub-20), eu entrei direto nesse trabalho da Copa das Confederações. Tentei passar o meu ponto de vista dos possíveis pontos positivos e negativos dos adversários, da postura que eles vinham tendo em campo. Foi muito bom porque deu tudo certo. Vencer a Copa das Confederações foi uma experiência fantástica. Estar trabalhando com o profissional e ser um grão de areia nessa conquista gigantesca que foi... O mais bacana não foi só vencer, mas foi vencer jogando bem e trazendo a torcida para o lado da Seleção.

O que viu das escolas que pôde observar nas Confederações?
São seleções taticamente muito preparadas. O que aconteceu foi que os atletas do Brasil foram fantásticos e se comprometeram de uma maneira incrível com o trabalho. O mérito é do Felipão, que conseguiu tirar isso tudo deles. Esse comprometimento fez com que o time se entregasse de tal maneira, que marcasse muito, que se encaixasse taticamente na marcação do adversário. O jogador brasileiro sempre vai estar à frente dos outros. E, além disso, eles estavam comprometidos taticamente.

Alexandre Gallo e Maurício Copertino, na TV Tribuna (Foto: Lincoln Chaves)Gallo ao lado do auxiliar Maurício Copertino: os dois
trabalharam juntos no Santos(Foto:Lincoln Chaves)
Esse comprometimento da Seleção principal é o que tem procurado na base?
O que buscamos é um time que se encaixe taticamente, que seja obediente. Em nossas conversas, nós estamos buscando a entrega, a luta, embutindo no jogador brasileiro que ele não tem necessidade de ir para a Europa para aprender a jogar taticamente e voltar para jogar bem no Brasil. Tenho passado para os coordenadores dos clubes que nós não costumamos trabalhar taticamente na base. E é isso que estou brigando. Jogador sub-13 tem que trabalhar taticamente. Deixar jogador solto porque ele vai evouir, isso não funciona mais. A base ficou muito tempo sem trabalhar essa parte. Você joga o sul-americano contra o Uruguai, a Argentina, eles taticamente são bem armados. Antigamente, quando nós corríamos 8km, 9km, a individualidade fazia a diferença. Agora, que você corre 12km, o campo ficou curto. Se o nosso time for taticamente muito obediente e tiver a valência da habilidade técnica, como é o caso dos jogadores brasileiros, a tendência é que a gente volte a ganhar tudo.


O fato de a comissão técnica ter nomes que já passaram por clubes de ponta do Brasil e da Europa ajuda muito no momento de cobrar?
Ajuda e ajuda muito. Estamos na sétima convocação e não tivemos atraso em nenhuma delas. O respeito tem sido grande e entendo que o comando direciona isso. É uma equipe inteira profissional. Os dois preparadores físicos, os dois preparadores de goleiros, os dois auxiliares, são todos acostumados com o profissional. Não sabemos lidar com base. Foi o que o presidente quis fazer: trazer o profissionalismo para a base.


Ao ser escolhido pelo presidente Marin para ser o treinador da Seleção nas Olimpíadas, você acredita que numa eventual saída de Felipão após a Copa o seu nome seja o favorito para assumir o grupo principal?

Não pensei nessa situação. O principal objetivo hoje é trabalhar nas categorias de base da Seleção e cumprir os principais objetivos.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2013/07/tecnico-dos-jogos-de-2016-gallo-diz-sem-comprometimento-nao-fica.html

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