Escolhido por José Maria Marin para comandar o Brasil nas Olimpíadas, técnico fala da adoção de sistema único e da postura de atletas na base
Não vai ficar aqui quem não está comprometido"
Alexandre Gallo, sobre os jovens convocados para as categorias de base da Seleção
Alexandre Gallo foi o escolhido pelo presidente da CBF, José Maria Marin, para tocar o projeto até os Jogos do Rio de Janeiro. E o planejamento está sendo desenvolvido pelo coordenador das categorias de base da entidade. Da organização dos grupos sub-15, sub-17 e sub-20 até a implantação de uma estrutura única de jogo, nada passa pelo olhar atento do ex-jogador, que tem passagens como técnico por Atlético-MG, Santos, Avaí e Náutico, Bahia, Figueirense e Sport.
Mas o que chamou mesmo atenção na entrevista que ocorreu na Granja Comary, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, é a filosofia implantada pelo coordenador da CBF nas categorias de base. O exemplo de empenho, luta e dedicação da equipe principal na Copa das Confederações é o ponto de partida. A partir de agora, as prioridades para a escolha de um jogador para vestir a amarelinha não passam apenas pela capacidade técnica. Elas vão muito além das quatro linhas.
- O atleta sempre era convocado por sua capacidade. Em seguinda, as pessoas analisavam o comprometimento e o caráter. Nós mudamos isso. Passamos a olhar o caráter, o comprometimento e, em terceiro lugar, a capacidade técnica. Todo jogador que é convocado tem capacidade para estar na Seleção. Estamos buscando jogadores com perfil de entrega, de luta, de determinação. É o que vimos na Copa das Confederações. Estamos voltados para que isso aconteça também nas categorias de base da Seleção. Não vai ficar aqui quem não está comprometido e que cumpra o trabalho que está sendo proposto. Sem comprometimento não fica. Essa tem sido a tônica do nosso trabalho - explicou Gallo.
Sobre a escolha de Marin, que recentemente cravou o treinador como o comandante do time canarinho nas Olimpíadas de 2016 em entrevista ao jornal "O Globo", Gallo se disse honrado e mostrou que o trabalho em busca da inédita medalha de ouro já começou.
- O projeto inicial era fazer um ciclo olímpico até 2016. Fico honrado de o Brasil disputar uma Olimpíada dentro de casa e eu ser o técnico, o comandante, nesse momento. Era um projeto criado desde que eu fui contratado. O importante é fazer com os pés no chão, sem que suba à cabeça. A partir do ano que vem, da Copa do Mundo, nós teremos dois anos de preparação - disse o comandante canarinho.
- As Olimpíadas vão usar atletas até 93. Vamos estender a lista até o ano de 96, que é essa categoria sub-17 atual (o grupo vai disputar o Mundial em outubro, nos Emirados Árabes). Esses jogadores vão estar para completar 21 anos. Serão jogadores aptos, vencedores, acostumados e com lastro de três ou quatro anos de Seleção para disputar a competição. A partir da Copa, nós vamos unificar todas essas gerações para fazer as escolhas. Teremos um conhecimento grande da categoria e poderemos errar o mínimo possível para fazer uma grande competição em 2016 - analisou Gallo.
O coordenador das categorias de base revelou ainda que tem mantido contatos constantes com os principais clubes do futebol brasileiro. Gallo já visitou 19 e vai entrar em contato com mais sete. Tudo para manter um bom relacionamento no momento de convocar e ter um conhecimento maior sobre os atletas relacionados.
Gallo comanda treino da seleção sub-17, na Granja Comary, em Teresópolis (Foto: Divulgação / CBF)
Uma outra informação importante foi revelada por Alexandre Gallo e que engloba a organização das categorias de base no Brasil. De acordo com o treinador, a CBF vai realizar um congresso técnico em setembro, em São Paulo, com os principais clubes do país. A intenção é mostrar a filosofia e a maneira como as seleções vão atuar daqui a para frente aos coordenadores das categorias de base das equipes brasileiras.
- Temos uma maneira única de jogar na CBF. Vamos fazer um congresso técnico, exclusivamente técnico, para mostrar isso aos clubes, coordenadores e treinadores. Tudo para facilitar esse link. Vou dar um exemplo: os profissionais dos clubes podem apontar um ou outro jogador que se encaixariam em determinada função, que vivem um bom momento. Essa fidelização é muito importante.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Eles estão dando a possibilidade de aproximar de verdade a base da Seleção principal."
Gallo, sobre a relação com Felipão e Parreira
nas categorias de base da CBF?
ALEXANDRE GALLO: Após o desempenho da sub-20 no Sul-Americano, nós iniciamos um processo de reformulação. Na primeira convocação da sub-20, nós tivemos problemas por não ser uma data-Fifa, mas mesmo assim fizemos uma grande reformulação. Levamos atletas do sub-17 e conquistamos um título importante. Das dez equipes que disputaram o torneio, nove estavam classificadas para o Mundial, menos o Brasil. Em 2013, o calendário da sub-20 está reduzido. Teremos um jogo comemorativo pelo aniversário da Federação Catarinense, em setembro, e um torneio no interior da França. Vamos levar uma equipe alternativa para abrir o leque de observações da sub-20.
Por conta disso, o foco hoje é a equipe sub-17?
Sim. Essa é a próxima geração sub-20, com foco no Sul-Americano de 2015 (competição que dará duas vagas para as Olimpíadas do Rio e quatro para o Mundial da categoria). Estamos trabalhando com muito cuidado com essa equipe, aumentando o leque de observações e informações. A nossa comissão técnica já viu 340 jogadores. É uma categoria importante e que conseguimos vaga no Mundial. Terminamos o Sul-Americano com a mesma pontuação da Argentina e isso é importante para nós, para o desenvolvimento do trabalho. Essa é uma categoria que vai dar muitos frutos, com atletas importantes, que também já foram campeões no sub-15.
E a sub-15?
Iniciamos com os torneios de Barcelona e Salt (também na Espanha). Vencemos o segundo. Foi uma equipe que desconhecíamos porque foi bem no início do nosso trabalho. E a sub-15 é uma categoria que você precisa estar atento a tudo. Agora, com o passar do tempo e com um conhecimento maior, a última convocação já é toda em cima das nossas observações. Vamos para um torneio importante no México.
Está acumulando o comando técnico das três categorias?
Na verdade, na sub-15, direcionei mais o trabalho para o Caio Zanardi. São muitas situações, torneios com duplicidade de datas. Quando isso ocorre, o Caio assume a sub-15. O meu foco para o próximo ano é a sub-17 e a sub-20. A ideia é organizar e estar à frente de todas as categorias. Tudo para que possamos fazer um trabalho linkado com a seleção principal.
Sempre converso com os dois. A nossa sala é lado a lado na CBF. Eles estão dando uma abertura muito grande. Estou feliz com isso. Estão dando a possibilidade de aproximar de verdade a base do time principal. Alguns atletas da sub-20 foram convocados para o amistoso contra a Bolívia (em Santa Cruz de la Sierra). O trabalho está sendo feito em conjunto. Sempre reporto com relatórios, mostrando que jogadores estão se destacando. Tenho que servir a comissão técnica da principal de alguma maneira.
E a participação como observador dos adversários na Copa das Confederações?
Foi uma experiência grande para aprender com o Felipão, com o Parreira e com o Murtosa. São todas pessoas vencedoras. Eles me deram um espaço muito grande. Fiz análise do México, da Itália, da Nigéria, da Espanha, do Uruguai. Depois do torneio na Suíça (com a seleção sub-20), eu entrei direto nesse trabalho da Copa das Confederações. Tentei passar o meu ponto de vista dos possíveis pontos positivos e negativos dos adversários, da postura que eles vinham tendo em campo. Foi muito bom porque deu tudo certo. Vencer a Copa das Confederações foi uma experiência fantástica. Estar trabalhando com o profissional e ser um grão de areia nessa conquista gigantesca que foi... O mais bacana não foi só vencer, mas foi vencer jogando bem e trazendo a torcida para o lado da Seleção.
O que viu das escolas que pôde observar nas Confederações?
São seleções taticamente muito preparadas. O que aconteceu foi que os atletas do Brasil foram fantásticos e se comprometeram de uma maneira incrível com o trabalho. O mérito é do Felipão, que conseguiu tirar isso tudo deles. Esse comprometimento fez com que o time se entregasse de tal maneira, que marcasse muito, que se encaixasse taticamente na marcação do adversário. O jogador brasileiro sempre vai estar à frente dos outros. E, além disso, eles estavam comprometidos taticamente.
O que buscamos é um time que se encaixe taticamente, que seja obediente. Em nossas conversas, nós estamos buscando a entrega, a luta, embutindo no jogador brasileiro que ele não tem necessidade de ir para a Europa para aprender a jogar taticamente e voltar para jogar bem no Brasil. Tenho passado para os coordenadores dos clubes que nós não costumamos trabalhar taticamente na base. E é isso que estou brigando. Jogador sub-13 tem que trabalhar taticamente. Deixar jogador solto porque ele vai evouir, isso não funciona mais. A base ficou muito tempo sem trabalhar essa parte. Você joga o sul-americano contra o Uruguai, a Argentina, eles taticamente são bem armados. Antigamente, quando nós corríamos 8km, 9km, a individualidade fazia a diferença. Agora, que você corre 12km, o campo ficou curto. Se o nosso time for taticamente muito obediente e tiver a valência da habilidade técnica, como é o caso dos jogadores brasileiros, a tendência é que a gente volte a ganhar tudo.
O fato de a comissão técnica ter nomes que já passaram por clubes de ponta do Brasil e da Europa ajuda muito no momento de cobrar?
Ajuda e ajuda muito. Estamos na sétima convocação e não tivemos atraso em nenhuma delas. O respeito tem sido grande e entendo que o comando direciona isso. É uma equipe inteira profissional. Os dois preparadores físicos, os dois preparadores de goleiros, os dois auxiliares, são todos acostumados com o profissional. Não sabemos lidar com base. Foi o que o presidente quis fazer: trazer o profissionalismo para a base.
Ao ser escolhido pelo presidente Marin para ser o treinador da Seleção nas Olimpíadas, você acredita que numa eventual saída de Felipão após a Copa o seu nome seja o favorito para assumir o grupo principal?
Não pensei nessa situação. O principal objetivo hoje é trabalhar nas categorias de base da Seleção e cumprir os principais objetivos.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2013/07/tecnico-dos-jogos-de-2016-gallo-diz-sem-comprometimento-nao-fica.html
ALEXANDRE GALLO: Após o desempenho da sub-20 no Sul-Americano, nós iniciamos um processo de reformulação. Na primeira convocação da sub-20, nós tivemos problemas por não ser uma data-Fifa, mas mesmo assim fizemos uma grande reformulação. Levamos atletas do sub-17 e conquistamos um título importante. Das dez equipes que disputaram o torneio, nove estavam classificadas para o Mundial, menos o Brasil. Em 2013, o calendário da sub-20 está reduzido. Teremos um jogo comemorativo pelo aniversário da Federação Catarinense, em setembro, e um torneio no interior da França. Vamos levar uma equipe alternativa para abrir o leque de observações da sub-20.
Por conta disso, o foco hoje é a equipe sub-17?
Sim. Essa é a próxima geração sub-20, com foco no Sul-Americano de 2015 (competição que dará duas vagas para as Olimpíadas do Rio e quatro para o Mundial da categoria). Estamos trabalhando com muito cuidado com essa equipe, aumentando o leque de observações e informações. A nossa comissão técnica já viu 340 jogadores. É uma categoria importante e que conseguimos vaga no Mundial. Terminamos o Sul-Americano com a mesma pontuação da Argentina e isso é importante para nós, para o desenvolvimento do trabalho. Essa é uma categoria que vai dar muitos frutos, com atletas importantes, que também já foram campeões no sub-15.
E a sub-15?
Iniciamos com os torneios de Barcelona e Salt (também na Espanha). Vencemos o segundo. Foi uma equipe que desconhecíamos porque foi bem no início do nosso trabalho. E a sub-15 é uma categoria que você precisa estar atento a tudo. Agora, com o passar do tempo e com um conhecimento maior, a última convocação já é toda em cima das nossas observações. Vamos para um torneio importante no México.
Está acumulando o comando técnico das três categorias?
Na verdade, na sub-15, direcionei mais o trabalho para o Caio Zanardi. São muitas situações, torneios com duplicidade de datas. Quando isso ocorre, o Caio assume a sub-15. O meu foco para o próximo ano é a sub-17 e a sub-20. A ideia é organizar e estar à frente de todas as categorias. Tudo para que possamos fazer um trabalho linkado com a seleção principal.
Parreira e Alexandre Gallo conversam na sede da CBF, na Barra da Tijuca (Foto: Divulgação / CBF)
Como é a relação com Felipão e Parreira?Sempre converso com os dois. A nossa sala é lado a lado na CBF. Eles estão dando uma abertura muito grande. Estou feliz com isso. Estão dando a possibilidade de aproximar de verdade a base do time principal. Alguns atletas da sub-20 foram convocados para o amistoso contra a Bolívia (em Santa Cruz de la Sierra). O trabalho está sendo feito em conjunto. Sempre reporto com relatórios, mostrando que jogadores estão se destacando. Tenho que servir a comissão técnica da principal de alguma maneira.
E a participação como observador dos adversários na Copa das Confederações?
Foi uma experiência grande para aprender com o Felipão, com o Parreira e com o Murtosa. São todas pessoas vencedoras. Eles me deram um espaço muito grande. Fiz análise do México, da Itália, da Nigéria, da Espanha, do Uruguai. Depois do torneio na Suíça (com a seleção sub-20), eu entrei direto nesse trabalho da Copa das Confederações. Tentei passar o meu ponto de vista dos possíveis pontos positivos e negativos dos adversários, da postura que eles vinham tendo em campo. Foi muito bom porque deu tudo certo. Vencer a Copa das Confederações foi uma experiência fantástica. Estar trabalhando com o profissional e ser um grão de areia nessa conquista gigantesca que foi... O mais bacana não foi só vencer, mas foi vencer jogando bem e trazendo a torcida para o lado da Seleção.
O que viu das escolas que pôde observar nas Confederações?
São seleções taticamente muito preparadas. O que aconteceu foi que os atletas do Brasil foram fantásticos e se comprometeram de uma maneira incrível com o trabalho. O mérito é do Felipão, que conseguiu tirar isso tudo deles. Esse comprometimento fez com que o time se entregasse de tal maneira, que marcasse muito, que se encaixasse taticamente na marcação do adversário. O jogador brasileiro sempre vai estar à frente dos outros. E, além disso, eles estavam comprometidos taticamente.
Gallo ao lado do auxiliar Maurício Copertino: os dois
trabalharam juntos no Santos(Foto:Lincoln Chaves)
Esse comprometimento da Seleção principal é o que tem procurado na base?trabalharam juntos no Santos(Foto:Lincoln Chaves)
O que buscamos é um time que se encaixe taticamente, que seja obediente. Em nossas conversas, nós estamos buscando a entrega, a luta, embutindo no jogador brasileiro que ele não tem necessidade de ir para a Europa para aprender a jogar taticamente e voltar para jogar bem no Brasil. Tenho passado para os coordenadores dos clubes que nós não costumamos trabalhar taticamente na base. E é isso que estou brigando. Jogador sub-13 tem que trabalhar taticamente. Deixar jogador solto porque ele vai evouir, isso não funciona mais. A base ficou muito tempo sem trabalhar essa parte. Você joga o sul-americano contra o Uruguai, a Argentina, eles taticamente são bem armados. Antigamente, quando nós corríamos 8km, 9km, a individualidade fazia a diferença. Agora, que você corre 12km, o campo ficou curto. Se o nosso time for taticamente muito obediente e tiver a valência da habilidade técnica, como é o caso dos jogadores brasileiros, a tendência é que a gente volte a ganhar tudo.
O fato de a comissão técnica ter nomes que já passaram por clubes de ponta do Brasil e da Europa ajuda muito no momento de cobrar?
Ajuda e ajuda muito. Estamos na sétima convocação e não tivemos atraso em nenhuma delas. O respeito tem sido grande e entendo que o comando direciona isso. É uma equipe inteira profissional. Os dois preparadores físicos, os dois preparadores de goleiros, os dois auxiliares, são todos acostumados com o profissional. Não sabemos lidar com base. Foi o que o presidente quis fazer: trazer o profissionalismo para a base.
Ao ser escolhido pelo presidente Marin para ser o treinador da Seleção nas Olimpíadas, você acredita que numa eventual saída de Felipão após a Copa o seu nome seja o favorito para assumir o grupo principal?
Não pensei nessa situação. O principal objetivo hoje é trabalhar nas categorias de base da Seleção e cumprir os principais objetivos.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2013/07/tecnico-dos-jogos-de-2016-gallo-diz-sem-comprometimento-nao-fica.html
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