terça-feira, 30 de julho de 2013

Filha de ex-boia-fria, Teliana deixa o Sertão para fazer história no tênis

Consagração de tenista pernambucana no Top 100 da WTA é fruto de história de superação familiar e dedicação total ao esporte: 'É preciso lutar sempre'

Por Matheus Tibúrcio e Túlio Moreira Rio de Janeiro

Parece até história de livro. A pessoa sai do semi-árido Sertão nordestino e faz o êxodo rumo ao sul do país, na esperança de obter uma vida melhor para ela e para a família. Vários brasileiros já tentaram a aventura, mas muitos viram os esforços serem em vão. Não o pai de uma jovem tenista brasileira que agora deve estar cheio de orgulho da filha. Aos sete anos de idade, Teliana Pereira deixou a terra seca de Barra de Tapera (PE) para se reencontrar com José Pereira da Silva, que havia achado em Curitiba.

Quase duas décadas depois, a atleta de 25 anos entrou pela primeira vez no Top 100 da WTA e atualmente é a 100ª melhor tenista do mundo. O percurso teve altos e baixos e envolveu muita superação, sobretudo fora das quadras, para que a brasileira quebrasse longos jejuns para o tênis feminino do país em torneios da WTA e no ranking mundial.

- Tenho esse sonho desde que me tornei profissional, em 2006. Infelizmente, em 2008 algumas lesões apareceram, tive que ficar fora das competições por dois anos, e essa foi minha maior dificuldade. Hoje em dia, já faço um trabalho físico muito bom, para evitar lesões, e isso está fazendo a diferença. Sempre procurei fazer o meu melhor e não pensar em mais nada. A cada treino procuro dar o máximo de mim, para chegar o mais longe possível - define a atleta.

Teliana Pereira comemoração Top 100 WTA (Foto: Reprodução / Facebook) 
Teliana Pereira comemoração Top 100 WTA (Foto: Reprodução / Facebook)
 
Teliana passou os primeiros anos de vida em um lugar humilde. Ela nasceu em Santana do Ipanema (AL) porque em Barra de Tapera não havia maternidade. Um da família de seis irmãos naquela época chegou a morrer de desitração. Porém, quis o destino que o mundo do tênis a cercasse desde cedo. Quando o pai deixou o Nordeste em busca de melhores oportunidades, ele passou por Mato Grosso e São Paulo até que se fixou em Curitiba. E ali era dado o primeiro passo para a pernambucana se aventurar no esporte.

Seu José arranjou emprego na construção da academia de tênis de Didier Rayon e em seguida passou a cuidar da manutenção do local. Os filhos fizeram bico de boleiros dos alunos, mas Rayon viu talento nos jovens. Com raquetes emprestadas, primeiro foi Renato, irmão e atual treinador dela, que começou a treinar. Depois foi a vez da hoje 100ª do ranking dar seus primeiros passos.
A entrada de Teliana no tênis começou a lhe render frutos. Com 10 anos de idade, ganhou o primeiro torneio. Em 2005, virou profissional. Em 2007, com apenas 19 anos, se tornou a tenista número 1 do Brasil. Naquele ano foi medalhista de bronze nas duplas dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e chegou a assumir a 196ª posição do ranking mundial, melhor colocação até um episódio quase fatal.

Teliana Pereira quebrou jejum de 23 anos sem brasileiras no Top 100 (Foto: Divulgação) 
Teliana Pereira quebrou jejum de 23 anos sem brasileiras no Top 100 (Foto: Divulgação)
 
A carreira da pernambucana parecia que ia decolar, mas sofreu um grande baque em 2008. Com um grave problema no joelho, ela passou por duas cirurgias e ficou mais de um ano sem competir. Quando voltou, em julho de 2010, teve que disputar vários Challengers (torneios menores da WTA) para somar pontos e obter ranking novamente. E tudo isso com a ajuda de amigos, que lhe emprestavam dinheiro para custear as passagens e as inscrições nos campeonatos.

- Os desafios são os mesmos de qualquer profissão. Para ser o melhor, é preciso abdicar de muitas coisas, ter foco, e lutar sempre, além de ter uma grande equipe por trás - avalia Teliana.

A caminhada de volta ao topo foi dura, mas 2013 tem se mostrado um ano maravilhoso para a tenista. Teliana já pôs fim a dois jejuns neste ano. Em fevereiro, a pernambucana alcançou as semifinais do WTA de Bogotá. Há 24 anos nenhuma brasileira chegava tão longe em um torneio WTA - Niege Dias foi às semis do WTA de Niagara Falls, nos Estados Unidos, em 1989. Com a ajuda dos títulos dos Challengers de Perigueux e Denain, na França, em junho e julho, Teliana entrou no Top 100 pela primeira vez. De quebra, ela encerrou um período de 23 anos sem representantes do Brasil entre as 100 melhores do mundo - Andrea Vieira estava pela última vez no grupo em 1990, quando foi 95ª em abril.

A tenista Teliana Pereira espera que sua conquista possa incentivar o tênis feminino no Brasil (Foto: Divulgação) 
A tenista espera que sua conquista possa incentivar outras brasileiras (Foto: Marcelo Ruschel/POA Press)
 
Agora Teliana sonha em fazer ainda mais história. Em agosto, ela vai disputar os qualifyings dos WTAs de Cincinnati e New Haven e em seguida vem o classificatório do US Open, último Grand Slam da temporada. Se passar pelo quali do torneio em Nova York, ela será a primeira brasileira a estar na chave principal de um Grand Slam após 20 anos. Andrea Vieira foi a última, justamente no US Open de 1993. Ela chegou perto de obter vaga direta na elite do torneio, mas a 105ª colocação do ranking há duas semanas, quando foi divulgado a listagem de atletas para competição, não foi suficiente.

- Espero que a minha conquista possa motivar ainda mais outras tenistas brasileiras a buscarem um espaço maior no cenário internacional. O Brasil tem ótimas tenistas, todas estão crescendo, e acredito que daqui alguns anos terão outras no Top 100 - comemora a pernambucana.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/tenis/noticia/2013/07/filha-de-ex-boia-fria-teliana-deixa-o-sertao-para-fazer-historia-no-tenis.html
 

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